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Filmes e Séries - Por Barbara Demerov

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“Glauber Rocha nunca é passado”, diz Lino Meireles sobre filme restaurado em Cannes

58 anos após a estreia, Deus e o Diabo na Terra do Sol é reexibido no festival; produtor trabalhou na restauração ao lado de Paloma Rocha, filha de Glauber

Por Barbara Demerov
Atualizado em 17 Maio 2022, 18h12 - Publicado em 17 Maio 2022, 17h52
Deus e o Diabo na Terra do Sol será reexibido em Cannes
Deus e o Diabo na Terra do Sol será reexibido em Cannes (Divulgação/Divulgação)
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O 75º Festival de Cannes começou nesta terça-feira (17) e, apesar de nenhum filme brasileiro estar concorrendo à Palma de Ouro este ano, há um título especial na programação.

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A versão restaurada em 4K de Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, será exibida na seção Cannes Classics, dedicada a filmes clássicos e à preservação do patrimônio cinematográfico mundial, nesta quarta-feira (18), às 16h (às 11h no Brasil).

O longa participou de Cannes em 1964 e concorreu ao principal prêmio do evento na época. Agora, 58 anos após a estreia, o título retorna à Riviera Francesa para a sessão especial. A Vejinha entrevistou o produtor Lino Meireles, que se uniu à diretora Paloma Rocha, filha do cineasta, para trabalhar na nova versão. A restauração foi iniciada em 2019 e finalizada apenas este ano, mais de 40 anos depois da morte do realizador baiano.

A expectativa de Lino, que já está em Cannes, é alta. “Espero que seja a melhor sessão do filme em aspectos fílmicos. Eu apenas vi o filme em DVD antes do processo de restauro e, até agora, só assisti na sala de projeção. Finalmente poder assistir no cinema, em 4K, durante o Festival de Cannes… é quase que uma experiência religiosa”, diz.

Sobre a ausência de filmes brasileiros em outras mostras de Cannes em 2022, Meireles reflete: “em 2019, tínhamos três filmes brasileiros: Bacurau disputando pela Palma de Ouro, A Vida Invisível, vencedor da mostra Un Certain Regard, e Sem Seu Sangue na Quinzena dos Realizadores. Além disso, tivemos a coprodução brasileira O Traidor, com Maria Fernanda Cândido. Dessa euforia em 2019, agora em 2022 estamos aqui sozinhos. Por um lado é um sonho realizado, mas ao mesmo tempo existe um sentimento paradoxal, pois poderíamos ter uma grande festa do cinema brasileiro com o antigo e o novo. Não teremos isso.”

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O produtor e diretor do premiado longa-metragem Candango: Memórias do Festival também reflete sobre o impacto da obra de Rocha no cinema brasileiro. “Glauber nunca é passado porque os filmes dele sempre falam com o Brasil. Ele refletia sobre o Brasil a fim de conscientizar para formar um futuro melhor. Deus e o Diabo na Terra do Sol estreou em 64, ano da Ditadura Militar, então esse futuro que ele queria para o Brasil nunca chegou. Enquanto esse futuro não chegar, o filme permanecerá atual.”

Meireles ainda recorda que, inicialmente, seu plano era restaurar um filme de Glauber Rocha que não havia sido digitalizado antes. Mas, quando conheceu Paloma Rocha, a proposta da filha do cineasta foi a de restaurar Deus e o Diabo na Terra do Sol. “Quando ela disse isso, foi uma loucura. É um filme importante não só para mim como também para o nosso país como um todo, pois, ao lado de Vidas Secas, a obra teve o papel de inserir a cinematografia brasileira no cenário internacional.”

Quanto a presença de novos filmes brasileiros em futuros festivais, o produtor afirma que o legado do cinema brasileiro é de resistência. “O país passou golpes periódicos: a Ditadura em 64, a extinção da Embrafilme nos anos 90 e a do Ministério da Cultura com a ruptura no fomento de atividades cinematográficas. Mas, mesmo assim, o cinema resiste e existe, além de ser exportado para o mundo. Espero que o renascimento de Deus e o Diabo inspire o nascimento de outros filmes.”

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