‘La Chimera’: Josh O’Connor e Carol Duarte brilham em drama italiano
Uma pérola na programação da Mostra SP, filme de Alice Rohrwacher apresenta história repleta de delicadeza e originalidade
✪✪✪✪✪ A palavra “quimera” pode ter diversos significados: uma utopia, uma ideia difícil de alcançar ou uma criatura mística. O novo filme de Alice Rohrwacher, La Chimera, condensa essas e outras definições em uma história tão imaginativa quanto dramática.
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É um deleite acompanhar e descobrir mais da vida do protagonista, Arthur, um arqueologista britânico interpretado por Josh O’Connor (The Crown). Seu personagem tem um poder estranho: ele consegue encontrar túmulos secretos muito antigos que contém artefatos valiosos. Na Itália, havia o costume incluir objetos de valor para “facilitar” a entrada de uma alma no céu.
Ao lado de vários amigos, Arthur se torna conhecido em uma pacata região da Itália e é procurado pela polícia por afanar tais locais. Enquanto isso, ao voltar de uma recente prisão, ele reencontra Flora (Isabella Rossellini), mãe de uma antiga companheira, e conhece Itália (Carol Duarte), jovem que trabalha na casa da senhora. Carol está excelente em um papel de destaque e, ao lado de Josh, a dinâmica entre os dois é extremamente cativante.
Alice, por sua vez, filma com uma naturalidade ímpar. Suas imagens são claras e trazem leveza — o que, por consequência, se tornam impactantes exatamente por essa razão. É na despretensão que o talento da cineasta ganha destaque. O simples também é poderoso.
Algumas cenas, especialmente as sequências dançantes e que acompanham a trupe do protagonista, evocam uma atmosfera que só Federico Fellini trazia há algumas décadas. E, por mais misteriosa que a trama pareça ser a princípio, ela vai encaixando suas peças como num jogo lúdico – mas sem nunca perder a seriedade.
A ligação entre Itália e Arthur, além de bonita, é essencial para a construção do personagem principal. Ele questiona suas ações criminosas e também encara um acontecimento trágico que, no início, é deixado subentendido. Arthur viaja entre o passado e o presente e leva o espectador consigo.
Assim como em Lazzaro Felice, Alice cria um universo particular bucólico, profundo e emocionante.
Filme visto na 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.