✪✪✪ O protagonista de EO parte numa viagem sem rumo definido, saindo do interior da Polônia, depois de um traumático final de relacionamento. No meio do percurso, ele presencia cenas de celebração e de violência, sem nunca encontrar um local do qual se sinta parte integrante.
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A trama desta produção indicada ao último Oscar de melhor filme internacional, dirigida pelo veterano cineasta Jerzy Skolimowski e em cartaz na MUBI, já seria um convite à introspecção mesmo se o personagem principal fosse um ser humano. Imagine, então, se no lugar temos um simpático burro como figura central.
Ao colocar o ponto de vista de um animal como o predominante, o longa provoca empatia imediata. Afinal, é de cortar o coração ver a criatura sofrer maus-tratos nas mãos de diferentes pessoas com quem cruza o caminho. Mas a intenção do diretor não é apelar para o sentimentalismo barato.
Pelo contrário: a fotografia alterna entre o contemplativo das paisagens dos cenários repletos de natureza e alguns momentos brutais, tratados de forma crua. Conforme as situações se sucedem, surge naturalmente um questionamento sobre quem seria o animal mais cruel do planeta.
O roteiro é inspirado no clássico A Grande Testemunha, que o cineasta Robert Bresson lançou em 1966 e também é centrado nas observações de um burro.
Publicado em VEJA São Paulo de 15 de setembro de 2023, edição nº 2859