Sabedoria do prazer sustentável
Clóvis de Barros Filho defende que a felicidade tem que ser contemporânea ao momento vivido
PARAÍSO QUE NUNCA CHEGA
Fui vítima de alguns impostores que me fizeram acreditar que a felicidade estava sempre quando alguma coisa fosse acontecer. Fiz o primário esperando que o ginásio seria incrível, o ginásio esperando que o ensino médio seria incrível… Havia um problema: o paraíso não chegava nunca. eu me dei conta de que talvez tenha sido levado no bico por um certo tempo, mas não voltaria a ser levado outra vez.
SATISFAÇÃO É PRA JÁ
Não adianta me vir com promessas para daqui a dois ou três anos. Tem de ser legal no momento em que a vida acontece, até porque a felicidade é um atributo da vida e só pode estar onde a vida está, tem de ser contemporânea. Ou é bacana na imediatidade da experiência ou então eu descarto.
DESFRUTAR A REFLEXÃO
Valorizar a imediatidade não tem nada a ver com ser abilolado e não refletir sobre a vida. Pelo contrário, vem de uma profunda reflexão. A própria reflexão já é fonte de prazer. Acredito na capacidade da razão de evitar erros e experiências medonhas. É preciso que o prazer do imediato não comprometa o prazer do amanhã. Talvez esteja aí o limite a ser sempre considerado, que eu chamaria de sustentabilidade do prazer. Seria estúpido me proporcionar instantes de euforia que comprometessem a possibilidade desses mesmos instantes amanhã. Assim eu estaria me apequenando.
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CAMINHO MAIS SÁBIO
A sabedoria está em ter experiências prazerosas com o que há de mais simples e recorrente. Se o seu prazer depende de coisas complicadíssimas, como ir a Dubai de primeira classe ou fazer turismo interplanetário, ele vai ser raro. Mas se você consegue ter prazer com a brisa fresca no rosto, esse é um prazer mais recorrente.
UM ANTIMANUAL DA VIDA
Não digo nada sobre como ser feliz — se tivesse dicas de como se dar bem, não estaria nessa situação bem mediana que é a de todo professor. Apenas suponho que uma capacidade desenvolvida de refletir sobre a própria existência possa ajudar a ter uma existência aperfeiçoada, mas nem disso eu tenho muita certeza.
NOVAS QUESTÕES DA HUMANIDADE
As grandes questões da humanidade envolvem ética, liberdade, deus, morte… Mas há questões atreladas ao novo tempo, circunscritas à atualidade. Há a compaixão, a resiliência além do campo profissional, a presencialidade ou virtualidade das relações.
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SEM RESPOSTAS CERTAS
Ao longo da minha trajetória, parte dela fora da universidade, nas redes, eu sempre fui muito hostil à ideia de um guru que se pusesse no lugar das pessoas e pensasse por elas, ofertasse verdades sobre problemas. Jogo alguma luz sobre as questões, abastecido com o pensamento de pessoas que eu estudei, mas invariavelmente cada um deve tirar suas conclusões. E que elas sejam sempre provisórias, que estejamos sempre abertos e arejados ao debate.
O professor Clóvis de Barros Filho ministra o curso “Manual filosófico para viver melhor” na Casa do Saber, de 23 a 26 de agosto, com inscrições gratuitas. Está no ar no episódio Manual da Vida, do podcast Jornada da Calma.
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Publicado em VEJA São Paulo de 25 de agosto de 2021, edição nº 2752