Quanto tempo você ainda tem de vida? Já ousou pensar sobre a remota, porém real, possibilidade de amanhã o sol não brilhar para você? Para muitas pessoas, tal reflexão é inquietante. Admitir que possamos estar próximos do último capítulo deste livro intitulado vida na matéria costuma ser bastante incômodo. Como lidar com o desconhecido? Como lidar com o desapego total e irrestrito de tudo, de uma hora para outra?
Para mim, está cada vez mais claro que o maior medo do homem não é da morte em si. É, sim, da própria vida. É dela que temos medo, e esse temor pode ser traduzido de diferentes maneiras: dificuldade no amadurecer, bloqueio para amar, impossibilidade de se entregar e principalmente uma certa dificuldade em assumir a própria história.
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E se der certo? E se realmente eu e você conseguirmos ter a vida que sempre almejamos? Quem eu e você seríamos? Consegue perceber a força que há nesses questionamentos? Uma coisa que aprendi é que só não muda aquele que tem ganhos secundários em permanecer como está. Por exemplo: se a ideia que você tem de uma vida assumida for verdadeira, o que você terá de abandonar que ainda não está disposto?
No livro Amar… Apesar de Tudo, o filósofo francês e psicólogo Jean-Yves Leloup nos convida a uma reflexão poderosa sobre a sutil diferença entre uma vida plenamente assumida e uma vida suportada. Veja: só não assume a própria vida aquele que teme se transformar, pois, assim como a lagarta tece seu próprio casulo para virar borboleta, assim é a vida. Estamos sempre cruzando novas pontes.
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Não faz muito tempo tomei conhecimento da doce ousadia de Tamara Klink, filha do célebre velejador Amyr Klink. Tamara se tornou a mais jovem brasileira a cruzar o Oceano Atlântico sozinha num pequeno barco. Você faz ideia dos perigos que uma travessia como essa pode representar para qualquer pessoa? No momento em que ela se lançou rumo ao desconhecido, em outras palavras, ela aceitou crescer. Isso é assumir a vida!
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Para mim, a tal felicidade está no próprio caminho. A chegada é importante? Talvez seja, porém mais relevante é cada passo dado. Sinto que a vida nos convida constantemente a apreciar o caminho que nos levará até o momento derradeiro. Mas o final não é a meta, pois o êxtase está no caminho. Não é apenas o diploma de um curso universitário que importa, mas todo o trajeto até lá: o vestibular, os amigos que se fez, o conhecimento que se adquiriu, as noites mal dormidas estudando para provas e o orgulho de nossos pais por tudo isso. E, claro, principalmente o nosso próprio deleite. Bem como a casa construída, cada tijolo deve ser celebrado com alegria.
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Reconheçamos o óbvio. Tudo está em transformação. Eu não sou mais a mesma pessoa que era ontem e você também não é mais a mesma pessoa. O mesmo acontece com seu vizinho, bem como com todos os habitantes deste planeta. Particularmente gosto de pensar que somos sempre a versão mais atualizada de nós mesmos. Lembre-se de que o perigo de suportar a vida é chegar ao insuportável.
Penso que, no apagar das luzes da existência, se pudermos realizar que fomos leais a nós mesmos, a vida já terá valido a pena. Portanto não se demore onde não puder realizar sua felicidade. Assuma suas escolhas. Assuma sua vida! Pode acreditar, é mais fácil que seja assim. Você toma coragem, ou seja, toma a ação que vem do coração: “É isso que eu verdadeiramente quero”, e vai nessa direção, encarando a escolha que foi feita, ou, então, percebe que tal escolha não faz mais sentido e muda. Simples assim. Para que esperar um novo ano começar ou alguma data determinada se você pode escolher ser feliz todos os dias?
A curadoria dos autores convidados para esta seção é feita por Helena Galante. Para sugerir um tema ou autor, escreva para hgalante@abril.com.br.
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Publicado em VEJA São Paulo de 9 de fevereiro de 2022, edição nº 2775