É hora de mudar
Mudanças requerem praticamente milagres. Mas isso não significa que acontecem pela dor — para Helena Galante, é pelo Amor
“No fim, é o conceito de mudança que é difícil para as pessoas.” Quem me disse isso não foi nenhum filósofo, líder espiritual ou cientista dedicado a desvendar as peculiaridades da existência humana — e olha que já conversei com muitos deles. Foi o chef Jamie Oliver, que entrevistei em 2015, em Londres. Ele falava sobre alterar hábitos alimentares — e como uma pessoa só topava fazer isso se a situação anterior estivesse muito desconfortável. Pois este texto é para lhe contar que, depois de catorze anos na Vejinha, eu aceitei mudar. E Jamie estava certo, mudar é difícil. Mas Jamie também estava muito errado, nem toda mudança acontece pela dor. Hoje eu mudo por Amor.
Foi ele, o Amor, que me trouxe até aqui. Que preencheu de confiança o vazio que há entre um passo e outro numa caminhada. Já reparou nesse micromomento em que a gente pode até enxergar o caminho, mas ainda não sentiu o tato do solo firme a seguir? Honestamente, os bebês são muito corajosos em aprender a andar. E nós também somos, a cada movimento que nos permitimos fazer.
Cheguei à redação da VEJA SÃO PAULO com 19 anos. Minha primeira entrevista de emprego, meu primeiro estágio, um primeiro passo para virar gente grande. A vontade de aprender me levou longe, e por isso eu sou muito grata. Nunca julguei nenhuma função como maior ou menor: fiz a grade de horários do cinema no tempo em que ela ainda era impressa, dediquei sábados e domingos a conhecer o teatro infantil de São Paulo, mergulhei profundamente na gastronomia. Foram dez anos de COMER & BEBER, três edições da Feira dos Campeões, entrevistas em vídeo com profissionais devotos ao servir, incontáveis transmissões ao vivo e brindes, muitos brindes com a equipe da Vejinha (a mais carinhosa que existe).
Foi nesta última página da revista e no blog A Tal Felicidade que no fim de 2018 eu encontrei um novo norte. Diante das certezas que desmoronaram ao meu redor, descobri que não estava sozinha na busca pelo saborear da vida que não vem das coisas, mas do olhar para a existência e se perceber indivisível. Aqui, entendi que felicidade não era uma busca pessoal, era o meu trabalho, o que eu tinha de mais valioso para compartilhar no mundo.
Em 2019, num momento de inspiração, sugeri criar o podcast Jornada da Calma. Minha premissa era só uma: se eu e meus entrevistados nos entregássemos para a conversa, descobriríamos juntos um caminho para a serenidade. Assim tem sido. Toda segunda, há 92 semanas, dou um passo deliberado em direção à escuta e ao relacionamento incondicional. Encontro lições valiosas nas pessoas que falam e nas que escutam. Até hoje, mais de meio milhão de plays já foi dado. Para mim, é a certeza de que nem eu nem ninguém está só.
A partir desta semana, dou um próximo passo. Assumo a área de conteúdo de bem-estar da Editora Abril. Isso significa que sigo como colunista da Vejinha, aqui em A Tal Felicidade, e mantenho firme no ar o Jornada da Calma (o episódio da próxima segunda está um acalento só, é sobre aprender a confiar, vale ouvir). Mas estreio também como editora-chefe da BOA FORMA, marca forte que completa 35 anos (só um a mais do que eu).
BOA FORMA, corajosa, aceitou o conceito da mudança. Deixou para trás os formatos do passado para abraçar o equilíbrio, o movimento e a beleza de ser quem somos. Mudar é difícil — requer praticamente um milagre. Mas, quando topamos abrir as portas do nosso coração, os milagres acontecem. Com vocês, leitores e ouvintes, com a equipe de BOA FORMA à qual me junto e com o amado time da Vejinha, eu me entrego a essa feliz aventura.
Seguimos juntos.
Com Amor, Helena.
+Assine a Vejinha a partir de 6,90.
Publicado em VEJA São Paulo de 17 de março de 2021, edição nº 2729