A busca pela felicidade muitas vezes se entrelaça com a maneira como tratamos nosso ambiente natural. Como ativista ambiental, percebo essa conexão profundamente, sobretudo ao considerar o litoral brasileiro. Este litoral, abençoado com uma beleza inigualável, clama por uma exploração sustentável e consciente.
Desde as Constituições de 1934, 1937, 1946, 1967 e 1969 até a de 1988, o Brasil reconhece a importância da manutenção da beleza cênica de suas paisagens. No entanto, apesar dessa valorização histórica, a destruição continua.
Um fato alarmante é que poucos brasileiros estão cientes desse princípio constitucional. E pior: muitos constroem em áreas proibidas para desfrutar de uma “vista para o mar”, sem levar em consideração o impacto ambiental devastador de tais ações.
Essa negligência, infelizmente, não se limita aos indivíduos. As autoridades também falham em proteger nossa costa, que se estende por mais de 8 500 quilômetros. A especulação imobiliária sem controle parece ser a única força que rege esse espaço precioso.
Gradualmente, a beleza natural do litoral tem cedido lugar ao concreto armado. Construções em áreas protegidas, como praias, falésias, dunas, restingas e mangues, demonstram um descaso flagrante pela legislação ambiental.
Desde a década de 1950, assistimos à deterioração do nosso litoral. O que era um paraíso prístino, agora, em muitos locais, se assemelha mais a uma caricatural. Desde a de seu antigo esplendor. Essa transformação não apenas prejudica a biodiversidade, mas também diminui a qualidade de vida das comunidades locais.
Para 2024, com as eleições municipais, surge uma nova esperança, e a possibilidade de eleger líderes comprometidos com a sustentabilidade e a preservação do nosso litoral como uma visão de felicidade. Líderes que respeitem o nosso patrimônio natural e promovam um desenvolvimento equilibrado, respeitando as leis ambientais e incentivando um turismo consciente.
E como não sentir a tal felicidade ao vislumbrar a possível realização de um sonho que há anos acalento: ver o litoral brasileiro protegido e valorizado, não apenas como local de lazer, mas como um legado para as futuras gerações. Que as escolhas reflitam nosso amor e respeito pelo Brasil; afinal, um litoral sustentável é um exemplo de harmonia entre o homem e a natureza.
João Lara Mesquita
(@mar_sem_fim) é editor do site marsemfim.com.br.
A curadoria dos autores convidados para esta seção é feita por Helena Galanete. Para sugerir um tema ou autor, escreva para hgalante@abril.com.br.
Publicado em VEJA São Paulo de 16 de janeiro de 2024, edição nº 2877