Como podemos viver plenamente o presente e seguir um caminho que nos leve a uma velhice feliz? Trabalho como médico há mais de vinte anos e costumo perguntar aos meus pacientes o que é importante para eles hoje e o que gostariam de fazer quando chegarem aos seus 80 anos. Independentemente da resposta, o caminho que vai levar alguém do presente para um futuro com qualidade de vida e independência passa pela construção de hábitos alimentares saudáveis de forma duradoura e da prática regular de exercícios físicos.
Quando falamos sobre felicidade, essa combinação de alimentação e exercícios se une às relações interpessoais, como a convivência com família e amigos, para formar os três pilares que sustentam uma vida saudável: saúde cognitiva, saúde física e saúde emocional. Isso vale para quem quer desafiar seus limites e correr uma maratona ou quer envelhecer com qualidade, mantendo a autonomia na rotina. Um exemplo bastante emblemático da relação entre hábitos saudáveis e felicidade é o meu encontro com Fernando Vilela, de quem acabei virando sócio na Liti, empresa que criamos para ajudar as pessoas a manter uma vida mais saudável por meio da junção da ciência com a tecnologia.
Nos conhecemos em 2019, quando, em meio a ondas de fadiga extrema, o Fernando me procurou para ter uma ajuda médica. Ele atrelava esse cansaço a um possível burnout, síndrome de esgotamento profissional, e queria prescrição para vitaminas esperando que resolvesse o seu problema. Ao longo da consulta, expliquei que não há solução mágica. O que ele precisava era mudar seu estilo de vida, aderindo a uma alimentação saudável e à prática regular de atividades físicas.
A princípio, pode parecer que o sintoma da fadiga tenha pouca relação com os hábitos de comer bem e de se exercitar. Mas, apenas um mês após adotar e cumprir o plano que elaboramos na nossa primeira consulta, o Fernando já estava positivamente diferente. Vale ressaltar que intuitivamente acabamos fazendo o contrário: uma pessoa com quadro de cansaço geralmente costuma diminuir a prática de exercício físico esperando que, ao deixar de gastar energia, a fadiga diminua. Nesses casos, pode ocorrer aumento de peso e piora na qualidade do sono. É um ciclo vicioso.
É importante dar uma explicação rápida sobre a relação entre sobrepeso e cansaço. Existe uma condição que chamamos na medicina de apneia obstrutiva do sono (AOS), em que, mesmo que a pessoa esteja dormindo uma quantidade de horas razoável, nem sempre esse sono é reparador. Isso porque uma das causas da AOS é quando o excesso de peso causa acúmulo de gordura na região do pescoço e, consequentemente, estreita as vias aéreas respiratórias. Quem sofre desse distúrbio para de respirar por alguns segundos diversas vezes durante a noite, interrompendo o ciclo normal do sono e impedindo que se atinjam as fases de sono mais profundas e restauradoras. O cansaço pode ser resultado de uma rotina cansativa, sim. Mas muitas vezes também está ligado a padrões alimentares e ao sedentarismo.
Em exemplos como esse fica claro que o impacto das nossas escolhas alimentares e do sedentarismo não se dá só na balança, mas na qualidade de vida. E também na sua felicidade presente e futura. Toda a minha carreira foi direcionada a ajudar pessoas a ter qualidade de vida, saúde e felicidade.
Se, lá atrás, o Fernando não tivesse procurado ajuda profissional, talvez eu não estivesse aqui hoje escrevendo sobre um encontro que me despertou para a possibilidade de ajudar mais pessoas com o meu conhecimento e com isso expandir o impacto, que era restrito à minha agenda. Esse é um dos “e se” mais importantes da minha vida.
Convido vocês a também se questionarem: e se seus hábitos alimentares e de exercício de hoje puderem colocá-los na direção de um amanhã mais feliz?
A curadoria dos autores convidados para esta seção é feita por Helena Galante. Para sugerir um tema ou autor, escreva para hgalante@abril.com.br.
Publicado em VEJA São Paulo de 9 de fevereiro de 2024, edição nº 2879