E se todos nós pudéssemos ter um refúgio que nos ajudasse a encontrar as respostas que buscamos, aliviasse a ansiedade e, ao mesmo tempo, criasse oportunidades de conexão, resgatando nosso senso de propósito e pertencimento? Parece bom demais para ser verdade, não é mesmo? A boa notícia é que esses refúgios existem: são os jardins terapêuticos, também chamados de jardins restauradores e de bem-estar, que podem aumentar a produtividade, diminuir o estresse, ajudar no controle da pressão arterial e no tratamento complementar para diversos casos clínicos.
Quando comecei minha carreira como psicóloga, queria ajudar as pessoas a descobrirem como encontrar as respostas dentro delas mesmas. Mas algo aconteceu e me levou a uma profunda mudança: minha mãe, aos 53 anos, foi diagnosticada com Alzheimer pré-senil e, diante disso, eu não conseguia me restringir ao consultório e queria gerar experiências mais acolhedoras.
Sempre fui apaixonada pela natureza e, por isso, o paisagismo se abriu como um mundo de possibilidades. Nos últimos vinte anos, meus projetos colaboram para que as pessoas encontrem um lugar seguro nos jardins. Me dei conta de que poderia unir esses conhecimentos para criar espaços facilitadores de processos de cura e conexão.
A natureza possui os recursos para termos rotinas melhores, com saúde mental, física e emocional. E todos nós, independentemente da região em que moramos, do tamanho de nossas casas e escritórios, podemos ter um refúgio por perto.
Inúmeros estudos mostram que o ser humano precisa estar perto da natureza. Roger Ulrich, um dos principais pesquisadores dessa área, mostrou que o contato com os jardins e o verde em instituições de saúde colaboram para a diminuição no tempo de internação e consumo de medicamentos dos pacientes. Os jardins terapêuticos estimulam o tato, o paladar, a audição, a visão, o olfato e as memórias.
Para inspirar a criação do seu refúgio pessoal, sugiro algumas espécies. Começo pelas Senecio candicans, também chamadas de asas de anjo, que possuem uma textura aveludada e provocam sensações de relaxamento. A lavanda também é ótima, pois, além de produzir arbustos lindos com flores roxas, possui aroma que relaxa, diminui o estresse, a ansiedade, melhora a concentração e a velocidade de raciocínio. O aromático hortelã, além de comestível, tem um perfume que diminui o chamado “estresse ruim”, gerando uma atenção mais aguçada e um estado mais atento ao presente. A folha de hortelã também estimula o tato, pois possui texturas e transfere o aroma para a ponta dos dedos. Outra planta comestível perfeita para um refúgio particular é o alecrim, com arbustos de formatos variados, por conta das suas folhas pequenas e finas. Ele ajuda na diminuição da ansiedade, na melhora do humor e da memória.
Estes são apenas alguns exemplos. O mais importante é perceber que cada jardim deve ser único. Assim como nós queremos cuidar da natureza, ela também quer cuidar de nós. Num país com tamanha biodiversidade, o meu propósito através do Instituto Brasileiro de Jardins Terapêuticos é tornar todos esses benefícios acessíveis ao maior número de pessoas possível.
Carla Pimentel (@carlapimentel_cp) é psicóloga, paisagista e cientista de sustentabilidade.
A curadoria dos autores convidados para esta seção é feita por Helena Galante. Para sugerir um tema ou autor, escreva para hgalante@abril.com.br.
Publicado em VEJA São Paulo de 5 de julho de 2023, edição nº 2848