Uma grande responsabilidade
Qual é o objetivo central da vida? Branca Barão, escritora de 'A Mulher que Vivia de Propósito' acredita ser a própria vida
Quando tiramos o dinheiro, os resultados e o reconhecimento externo da posição de objetivo central de nossas vidas, damos um passo bem importante: o objetivo central da vida se torna a própria vida. Compreender isso é dar permissão a si mesmo para viver uma vida plena, repleta de felicidade, realização, sucesso, liberdade e tudo mais que você descobrir que lhe traz valor real.
+ Ansiedade, uma condição do viver humano
Essa busca precisa sempre considerar o significado individual de felicidade, realização e sucesso, e nós só fazemos isso quando abrimos mão dos significados impostos pela nossa cultura e pelos padrões sociais sobre o que cada uma dessas palavras significa.
Passamos uma boa parte da vida tentando nos encaixar nos significados prontos, embalados e processados do mundo. Isso aumenta o desafio que é tornar claro esses significados para nós e, assim, vivermos uma vida autêntica. Acredito, inclusive, que uma criança tem muito mais clareza sobre o que significa ser “ela mesma”, enquanto muitos de nós não fazem a menor ideia.
A maioria foi enterrando a própria essência em cobranças sociais, imposições culturais e no desejo de ser aceito. O medo da crítica e da rejeição puxa o freio de mão da espontaneidade. Assim, nos tornamos, muitas vezes, adulto bem-educados e bem hipócritas.
Ser feliz significa descobrir o significado autêntico de felicidade e ter coragem de viver nessa direção. Para viver com propósito é preciso tomar consciência de quem você é e do que quer. Nesse nível, temos o autoconhecimento, a busca da autonomia, a priorização do eu, a sensação de plenitude, da autenticidade e da valorização da liberdade individual, da autopermissão para mudar de direção, e o direito de não nos encaixarmos nos padrões sociais.
A busca por um propósito se torna uma jornada de autoconhecimento e uma grande aventura de autodescoberta. Quando colocamos elementos como dinheiro, ascensão na carreira e reconhecimento externo como objetivos centrais, corremos o risco de viver “de trás para frente”, como se a felicidade fosse um prêmio dado somente para quem alcança determinados resultados e apenas depois de alcançá- los nos tornássemos merecedores da felicidade.
Como se sucesso fosse o único objetivo da vida, e a felicidade, a grande recompensa!
+ Um mundo melhor se constrói no plural
Afinal, como eu posso ser feliz se ainda não encontrei o amor da minha vida ou se ainda não me formei? Como posso ser feliz se ainda não descobri o meu propósito profissional, não comprei minha casa própria, não falo inglês fluentemente ou ainda não concluí aquele MBA em Massachusetts?
Essa visão pode fazer com que passemos a vida nos cobrando enquanto esperamos chegar, finalmente, o momento de desfrutar, sendo que não sabemos quando e se, algum dia, essa hora chegará.
Somos seres ambiciosos, sempre estaremos mirando em um ponto no futuro para alcançar algum objetivo. E isso é bom. O que não é bom é não nos darmos o direito de sermos felizes enquanto isso. O que faz com que a gente empurre a felicidade lá para o futuro.
+ O lugar que queremos habitar
Quando colocamos a felicidade no futuro, ela nunca mais estará no mesmo lugar que nós. Quando ousamos colocar a felicidade no mesmo momento e lugar em que nós estamos, aqui e agora, tanto o trabalho que realizamos quanto os resultados que alcançamos, quando descobrimos o nosso propósito, o mundo se torna um grande playground de experiências.
Fazer isso enquanto construímos felicidade é a nossa maior responsabilidade como seres humanos.
A curadoria dos autores convidados para esta seção é feita por Helena Galante. Para sugerir um tema ou autor, escreva para hgalante@abril.com.br
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Publicado em VEJA São Paulo de 24 de agosto de 2022, edição nº 2803