Especialista em dança fala sobre os benefícios de movimentar o corpo
Segundo ele, a prática ajuda a aliviar episódios de nervosismo, ansiedade e estresse
Existe uma tecnologia natural dentro de cada um de nós. Ao longo da vida, ela pode ficar escondida entre os muros altos da vergonha, da falta de tempo e de outros fatores que depositamos em nossas rotinas. Fato é que, mesmo em silêncio, podemos ativá- la de maneira simples e sem custos.
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Assim é o movimento. Apesar de inerente ao ser humano, o movimento por vezes encontra-se adormecido. Pensemos no passado longínquo no qual os rituais de caça, colheita, casamento, nascimento e morte eram todos celebrados com música e dança. É claro que até hoje, a depender da cultura, preservamos algumas dessas heranças. Mas na vida moderna, quando a correria ganha destaque, perdemos a conexão a partir do movimento.
Como resgatá-la? Depois de um intenso percurso de volta para dentro dos meus próprios sentimentos e estudando todas as variáveis do comportamento humano, passei a unir a dança ao autoconhecimento a partir de uma série de temas, como a psicologia positiva (ou ciência da felicidade) e a inteligência emocional. Tudo amparado na experiência de dar aulas de dança há mais de trinta anos, o maior impulso criativo que tenho registrado em meu corpo.
Foi através dessa experiência que consegui identificar dois recursos para que as pessoas voltem a dançar: ressignificar o passado e valorizar o presente. O que acontece, e que tanto percebi durante as minhas aulas de dança, é que as pessoas (todas elas) guardam marcas profundas do passado. Esses traumas, que podem estar ligados ao abandono, traição, humilhação e rejeição, por exemplo, também permanecem presos no corpo, limitando nossa liberdade e felicidade.
Eis aí a importância de procurar ajuda (como o acompanhamento psicológico e as terapias integrativas) e praticar atividades benéficas para o seu bem-estar emocional (o que Fred B. Bryant e Joseph Veroff chamam de savoring, ou a apreciação de desfrutar o momento).
De nada adianta, contudo, apreciar uma bela flor sem, antes, observá-la atentamente. Como é o seu perfume? Como suas pétalas se comportam na luz? E na sombra? Se projetarmos essa mesma ideia no movimento, teremos a clara definição do dançar, que nada mais é do que envolver-se e apenas sentir (sem racionalizar).
Dançar ajuda a aliviar episódios de nervosismo, ansiedade e estresse. Em virtude da liberação de endorfina, também auxilia no tratamento da depressão, na melhora do humor, no aumento da autoestima, no relaxamento e na compreensão das emoções. Por sinal, segundo Daniel Goleman, referência em inteligência emocional, “finalmente a psicologia leva a sério a alegria, o prazer e a felicidade”. Finalmente!
Sabendo de seus inúmeros benefícios para a qualidade de vida, alegro-me em destacar a dança como meio para valorizarmos os lampejos de felicidades cotidianas (no plural mesmo).
A felicidade que nasce na dança informal com os amigos, no abraço apertado em quem sentimos saudades, nas risadas que fazem a barriga doer, no autocuidado diário e na ideia de que, como bem disse Martin Seligman, idealizador da psicologia positiva, “a felicidade autêntica não é encontrada em ter mais, mas em ser mais”. Registre essa transformação em seu corpo. Seja mais você. Dance na pista da vida vestido de si!
Publicado em VEJA São Paulo de 8 de setembro de 2023, edição nº 2858