Há cerca de três anos, me deparei com uma postagem no Facebook sobre um colega que havia recebido o diagnóstico de autismo. Uma luz acendeu ao ler cada um dos tópicos e me identificar com todos. Depois disso, passei a buscar mais informações sobre o tema.
O espectro autista é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta diversos aspectos da vida de uma pessoa, seja ela adulta ou criança. Envolve sensibilidades sensoriais, dificuldades na interação social, na comunicação e outros desafios. Além disso, como o nome sugere, o autismo é um espectro, o que significa que nem todas as pessoas apresentam as mesmas características. Portanto, é necessário que um médico psiquiatra ou neurologista realize uma avaliação detalhada para fechar o diagnóstico.
Para entender mais sobre, devorei muitos conteúdos, meu hiperfoco em escrita e pesquisa me fez entender e querer saber mais sobre o assunto. Assim, procurei profissionais que pudessem me dar a resposta que eu tanto queria.
Passei por avaliação neuropsicológica e, três meses depois, após receber uma hipótese diagnóstica composta de catorze páginas, não fechei para autismo. Segundo a profissional, eu demonstrava empatia e não apresentava movimentos repetitivos. No entanto, essas falas de que “autistas não têm empatia” foram refutadas por vários profissionais especialistas. Diante da negativa, eu havia recebido o laudo de transtorno afetivo bipolar.
De 2020 a 2023, passei por experiências que incluíram a troca de medicamentos, ida a hospital psiquiátrico e crises, decidi consultar outra psicóloga. Após várias sessões, ela, sem conhecimento prévio do meu histórico de busca pelo transtorno do espectro autista (TEA), sugeriu que eu poderia ter muitas características autísticas e que precisávamos investigar. Pronto! Foi como se todas as minhas dúvidas enterradas ressurgissem, e eu fiquei com ainda mais vontade de entender o que estava acontecendo comigo.
Com muito esforço, economizei dinheiro e consegui uma consulta com um psiquiatra especializado em TEA em adultos. Após discussões e o envio da minha avaliação neuropsicológica anterior, ele finalmente me deu o laudo. E, em letras quase garrafais, eu li: “Você é autista!”. No início, fiquei sem reação. Eu ansiava por respostas, mas, mesmo tendo procurado por elas, não sabia como reagir.
Receber um diagnóstico é como receber uma prova de quinze páginas, junto com todas as respostas. É como ter todas as dúvidas esclarecidas. Ter um diagnóstico é como receber uma autorização para ser você mesma, sem medo de ser excluída, mesmo que isso signifique agir de maneira “esquisita”. É se permitir chorar sem culpas por ser metódica, organizada e desejar solidão quando as pessoas estão rindo alto demais. É entender que está tudo bem recusar convites de amigos para shows, shoppings ou bares porque você se sente sobrecarregada com estímulos demais ao mesmo tempo.
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A felicidade em receber um diagnóstico é como se alguém tivesse chegado até mim e dito: “Agora você não precisa mais se esconder atrás de máscaras com medo de ser excluída”.
A jornada em direção à felicidade, a partir do momento do laudo, envolve me compreender cada vez mais e aceitar a minha própria natureza, sem tentar me encaixar em moldes que não são meus. O autismo não é moda; as pessoas, assim como os profissionais, têm acesso a mais informações sobre o tema, o que tem levado a um aumento significativo nos diagnósticos.
Daqui em diante, espero que muitas pessoas encontrem as respostas que procuram, que busquem o autoconhecimento, com ou sem diagnóstico, e entendam que, independentemente de qualquer laudo, ser quem são e poder mostrar isso aos outros é libertador.
A curadoria dos autores convidados para esta seção é feita por Helena Galante. Para sugerir um tema ou autor, escreva para hgalante@abril.com.br.
Publicado em VEJA São Paulo de 20 de outubro de 2023, edição nº 2864