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Adoção: um ato de amor, respeito e decisão

Para a jornalista e escritora Lisandra Barbiero, o desejo de ter um filho transcende laços sanguíneos e vínculos biológicos

Por Lisandra Barbiero
16 jun 2023, 06h00
 (Getty Images/Divulgação)
 (Getty Images/Divulgação)
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Ser uma pesquisadora e ter escrito livros sobre a adoção de crianças e adolescentes, para mim, é antes de tudo um grande desafio, pois sou parte deste tema. E tendo essa vivência, deixa de ser um assunto conceitual e passa a ter um valor significativamente existencial, pois estou falando sobre a minha vida. Estou também falando sobre a vida de diferentes pessoas, que, assim como eu, tiveram suas jornadas direcionadas pela adoção.

Quando se fala que adotar é um ato de amor, precisamos ressignificar outros sentimentos profundos, podemos dizer que é também um ato de respeito, empatia, pertencimento e decisão. Para que a adoção mudasse minha vida, alguém teve que decidir por mim duas vezes: primeiro a minha mãe biológica tomou a iniciativa de não permanecer comigo, depois uma outra família escolheu me acolher, me aceitar e assumir como filha. E, a partir dessa decisão, nós iniciamos uma jornada como família.

Escrever sobre adoção é também um ato de resistência. É combater a desinformação e o preconceito que contribuem para a permanência do isolamento de milhares de crianças e adolescentes em instituições de acolhimento espalhadas por este país. Hoje eu posso dizer que a adoção mudou minha vida, que talvez em meu seio familiar biológico não tivesse as mesmas oportunidades, como essa, por exemplo. Escrever esta coluna é um ato de felicidade. É poder compartilhar meu testemunho de que, quando se decide pela adoção, o desejo de ter um filho transcende os laços sanguíneos, não se limitando ao vínculo biológico. É também poder afirmar que é o jeito de acolher e a decisão de amar que fazem a diferença na construção parental.

Sem amor, a paternidade e a maternidade seriam insignificantes. Sem acolhimento, seria impossível existir família. Por isso, a adoção deve ser observada e ressignificada. Foi o que aconteceu comigo e me permitiu perceber que, além de ser amada, orientada e cuidada, pude entender diferentes complexidades que permeiam nossa sociedade. Quando falamos de adoção, estamos falando também de racismo (afinal, a maior parte dos pretendentes prefere crianças brancas), estamos falando de maus-tratos, negligência, abandono, rejeição, experiências vividas por muitas dessas crianças e adolescentes que são disponibilizados para outras famílias. Esse é um tema que abraça muitas causas. Mas a maior questão vem do compromisso de educar para a vida o filho que está sob seus cuidados.

Acredito que a adoção é descoberta, é um lindo encontro que a vida nos proporciona. E isso toca de modo muito íntimo meu coração. Essa tal felicidade, quando falamos de adoção, é concretizada na busca e no encontro daquela criança já nascida, às vezes até crescida, que é apresentada a você muitas vezes de maneira inesperada. É nesse momento que acontece a chamada felicidade, que pode ser sentida e materializada na decisão de querer permanecer na vida daquele que lhe foi apresentado e você decidiu amar e acolher como filho ou filha. Essa felicidade existe quando falamos de adoção. E ela pode ser vista nas diferentes formas de viver em família.

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Lisandra Barbiero (Divulgação)

Lisandra Barbiero (@lisandrabarbiero) é jornalista e escritora. Especialista em neurociências do comportamento e pós-graduada em educação infantil. Tornou-se filha pela adoção aos 7 meses de vida.

A curadoria dos autores convidados para esta seção é feita por Helena Galante. Para sugerir um tema ou autor, escreva para hgalante@abril.com.br.

Publicado em VEJA São Paulo de 21 de junho de 2023, edição nº 2846.

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