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Para se transformar, é preciso reconhecer dores e fragilidades

A psicóloga Lilly Hastings fala sobre o poder e a força da consciência das fraquezas

Por Lilly Hastings, em depoimento a Helena Galante
6 out 2023, 06h00
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A força da fragilidade: Lilly Hastings escreve sobre o caminho da transformação (Divulgação/Veja SP)
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Em nossa jornada espiritual, muitas vezes esquecemos de nossa humanidade, querendo logo comprar um tíquete rumo às estrelas. Eu quero chamar você de volta para sua humanidade, sem negações de suas dores, limitações e dificuldades. Quero chamar você à profundidade de sua condição humana. Minha proposta não é uma espiritualidade descolada de sua humanidade. É justamente o contrário.

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Convido você a dar as boas-vindas a todas as vozes que falam dentro de você e perceber todas as dores que as alimentam. Vá na raiz dessas vozes, pois é assim que você poderá se conhecer melhor, e não se identificar com as máscaras do “eu” idealizado e repleto de negações das partes mais densas de sua personalidade. Acredito que é desse modo que todos podemos transformar nossas dores em fonte de empatia, compaixão e conexão verdadeira com os outros, reconhecendo que, assim como eu, esta e aquela pessoa também têm medos, preocupações, traumas, bloqueios e tudo o mais que possa vir de nossa frágil condição humana.

Todos temos dores parecidas. E é a partir da consciência dessas dores que podemos despertar nossa força e poder. Não como compensações à fraqueza, mas como virtudes naturais do ser. Por mais que nossas mentes tiranas possam querer negar nossas fraquezas, julgando-as infantis demais para a grandeza espiritual que almejamos, a transformação real só acontecerá se olharmos para todas as nossas dimensões e reconhecermos que tudo o que somos (corpo, emoções, memórias, elaborações mentais e o mistério além dessas facetas humanas) é composto simultaneamente de densidades e de sutilezas.

Não seria isso o que melhor define um ser humano? Mas então devemos nos conformar que sombrias densidades sempre estarão ali e portanto não há nada que se possa fazer? Não, não é esse o caminho. Se assim fosse, todos os grandes sábios, mestres e mestras que passaram por esse mundo dariam apenas uma aula (e bem rápida), dizendo: “Sinto muito, queridos amigos e amigas, não existe nenhum caminho que possa nos tirar da condição miserável de sermos humanos; façam o que quiserem, pois estamos fadados a sofrer”.

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Felizmente não é assim. É reconhecendo aquilo que nos causa dor e sofrimento e que pede para ser transformado que podemos cuidar melhor de nossa frágil condição humana e perceber que por trás dessa fragilidade há uma força imensa. É a partir dessa força, tão humana e tão imensa (uma vez que vem de quem se percebe frágil mas, ainda assim, avança) que podemos andar de forma mais consciente e mais madura rumo ao reconhecimento do mistério do Ser que realmente somos e criarmos uma nova forma de ser, de estar e de impactar a existência.

Publicado em VEJA São Paulo de 6 de outubro de 2023, edição nº 2862.

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