“A periferia venceu” é o slogan da EX Burguer, mas poderia ser também um resumo da vida do fundador, Ademario Santos Silva. Aos 49 anos, ele comanda a rede de hamburguerias com 33 endereços, quatro deles próprios. Grande parte está instalada em áreas paulistanas com comunidades, como Vila Joaniza, na Zona Sul, e Lajeado, na Zona Leste. As unidades vendem juntas em média 100 000 hambúrgueres por mês.
O número impressionante, que se equipara ao de marcas badaladas da classe A, está longe de ser o ápice do negócio. Há ainda mais sete lojas em obras na Grande São Paulo (no bairro do Jaguaré e nos municípios de Suzano, Cotia, Osasco, Guarulhos e Santo André, este com duas) e vinte pessoas na fila de espera para adquirir uma franquia, cuja adesão custa 20 000 reais. “Faço questão de conhecer os interessados. Investidores grandes me procuraram, mas não quis me vender. Eu entendo a marca como uma ferramenta de transformação social. O franqueado é o cara que abre para a família trabalhar. O cunhado faz lanche, o pai entrega… Um menino na chapa é um a menos na biqueira (ponto de venda de droga)”, acredita Silva.
O início da empreitada, nove anos atrás, aconteceu quando ele foi mandado embora do hipermercado Extra, onde trabalhou por treze anos e foi fiscal de prevenção de perdas. Antes disso, Silva passou pelo Bob’s e pelo Atacadão. Com uma chapa e uma fritadeira, ele montou a primeira unidade na garagem de casa, no Jardim São Luís, na Zona Sul, e decidiu operar apenas para entregas, pelo espaço reduzido. O que até então parecia uma limitação tornou-se a chave para o sucesso, já que a modalidade ganha a cada dia mais adeptos.
O franqueado é o cara que abre para a família trabalhar. O cunhado faz lanche, o pai entrega… Um menino na chapa é um a menos na biqueira
Ademario Santos Silva
Outra sacada foi a oferta de pacotes a preços acessíveis, compostos de um hambúrguer (10 reais com batata e refrigerante) ou de até trinta sandubas (119,99 reais). “Na época só tinha delivery de pizza e esfiha na periferia. E nossos combos correspondiam a uma ou duas pizzas. Foi assim que ganhamos o mercado.”
Mais recente, o sistema de franquias ajudou a marca a aumentar o alcance e a reforçar o cunho social. Dez filiais são tocadas por ex-colaboradores, como motoristas, atendentes de call center, gerentes e chapeiros. “Eu falo que em grandes redes eles nunca vão ser donos. Mas na EX Burguer eles são o que querem”, diz. O faturamento de cada loja oscila de 30 a 170 000 reais por mês.
Para manter o padrão nas unidades, os fornecedores dos ingredientes — pão, carne e queijo, industrializados — são os mesmos, assim como os processos. Silva também faz visitas aos estabelecimentos pelo menos uma vez a cada quinze dias. A exceção fica por conta da unidade de Salvador, a única (por enquanto) fora do estado. Além de atender pelos aplicativos iFood e Uber Eats, conta com aplicativo próprio e WhatsApp, sistema preferido pela clientela. Esse novo funcionamento mais tecnológico é obra do filho Victor Fernandes, 20, que ajuda o pai a deixar a rede mais moderna.
Nascido em Una, no litoral da Bahia, Silva foi criado pela mulher do avô. “Era minha mãe do coração e morreu quando eu tinha 12 anos. Meu avô era alcoólatra e vendeu a casa onde morávamos. Eu vendia sorvete e amendoim torrado na praia. Decidi me mudar para São Paulo e buscar meu pai. Achava que todo mundo aqui era rico”, conta. Mas a realidade foi bem diferente. “Ele tinha outra esposa e me largou numa casa onde viviam oito pessoas num único cômodo. Ia para feira e porta de mercado para comer. Quando consegui emprego no Bob’s, e percebi que ia comer os sanduíches de lá, me senti mais rico que o fundador do Facebook”, brinca. De lá para cá, a residência improvisada com papelão, madeira e plástico foi substituída por duas casas de alvenaria no mesmo Jardim São Luís. Há ainda uma terceira, em Mongaguá, para momentos de descanso. Até hoje, porém, Silva segue sem conhecer a mãe. “Se eu a encontrar vou dar uns cinco sanduíches para ela.”