De SP a Roma: bares diferentes, mesmo comportamento
De Santa Cecília ao Trastevere, dos becos de Barcelona ao Pelô, mudam os copos e permanece o desejo de pertencer
Toda cidade tem um bar que diz mais sobre seus habitantes do que qualquer manual de sociologia. Os nomes mudam, os sotaques também, mas o comportamento, esse é universal.
Em São Paulo, o Moela, na Santa Cecília, é quase uma metáfora da cidade: bar pequeno, mesas apertadas, gente na calçada e a sensação de que todo mundo ali está a um passo de mudar de vida ou de trabalho. A cerveja vem rápido, a conversa é intensa, e há sempre alguém com uma pochete descolada ou o celular aberto mostrando seu novo projeto criativo. No Moela, o bar é escritório, confessionário e palco improvisado de afetos.
Em Roma, o Bar Calisto, em Trastevere, cumpre o mesmo papel, mas com outro tempero. Entre cerveja local e vinhos baratos, o tempo parece desacelerar. Ali se misturam estudantes, senhores italianos, artistas, turistas, todos atraídos pela mesma coisa que atrai os paulistanos ao Moela: a possibilidade de pertencer, mesmo que por algumas horas. Calisto é um daqueles lugares onde ninguém precisa se explicar.
Em Barcelona, o Bar Pietro é o Moela mediterrâneo. Pequeno, caótico e honesto. Os garçons conhecem os fregueses pelo nome, as mesas vivem ocupadas por gente que acabou de sair do trabalho, e o vermute da casa tem gosto de cotidiano. É o tipo de bar em que as pessoas não vão apenas para beber, mas para se sentir parte de um roteiro coletivo, mesmo sem roteiro nenhum.
E em Salvador, o Cravinho faz o mesmo com mais cor, mais cheiro e mais música. No Pelourinho, ele é ponto de encontro de gerações, onde estudantes, artistas e turistas dividem espaço em pé, segurando o copinho de cachaça como se fosse passaporte. O Cravinho é uma iniciação cultural.
De São Paulo a Roma, de Barcelona a Salvador, muda o sotaque, mas o desejo continua sendo encontrar um lugar que faça a cidade parecer um pouco mais humana. Em tempos de pressa e performance, os bares ainda são o último território da pausa. Onde o pertencimento não se compra, se bebe. Bons drinks!





