É provável que você, leitor, não veja ninguém erguendo um brinde na mesa do bar em homenagem à Lei de Pureza Alemã da Cerveja — ou, para complicar um pouco, a Reinheitsgebot, como é chamada em seu país natal. Mas a regra, criada em 23 de abril de 1516 pelo Duque Guilherme IV da Baviera é considerada a mais antiga norma alimentar ainda em vigor e até hoje gera acalorados debates entre fãs de cerveja nas redes sociais.
Em linhas gerais, a norma regulamentava o preço da cerveja em dois períodos do ano, mas também determinava que a bebida só poderia ser produzida com água, malte e lúpulo – a levedura, outro protagonista da cerveja, não tinha seu papel exato conhecido à época, sendo isolada e controlada apenas séculos depois.
Há países, como a Bélgica, que desenvolveram excelentes escolas cervejeiras sem restrições similares à Reinheitsgebot, usando açúcar e ingredientes como coentro e casca de laranja em suas receitas. Os belgas são rotineiramente citados como exemplo por críticos da Lei de Pureza, para quem a norma cria uma “amarra” à criatividade dos cervejeiros. O que é visto como obstáculo por uns, porém, é considerado um desafio extra por defensores da regra. Estes citam como exemplo a grande quantidade de estilos, alemães ou não, que usam apenas os quatro ingredientes.
No Brasil, no início do renascimento cervejeiro artesanal, ocorrido há pouco mais de uma década, era comum ver pequenos produtores enfatizando que suas crias seguiam a Lei de Pureza. O que não quer dizer, nem no caso local nem no mundial, que com isso a cerveja seguramente será boa. Muitos rótulos fracos foram e ainda são produzidos por aqui, e nem a Reinheitsgebot nem qualquer outra escola cervejeira podem ser culpados por isso.
Pessoalmente, mais do que enfatizar uma suposta pureza cervejeira, prefiro encarar o 23 de abril como uma celebração das boas receitas alemãs. É o que farei logo mais. Prost!