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Lúpulo plantado em SP quase foi para o descarte

Desanimado com as tentativas de plantar sementes de lúpulo que havia iniciado alguns anos antes em seu sítio em São Bento do Sapucaí (SP), o agrônomo Rodrigo Veraldi decidira descartar o material na área de bota-fora de sua propriedade. “Dos sete ou oito diferentes grupos de sementes que plantei, um se desenvolveu, mas, com o […]

Por VEJA SP
Atualizado em 26 fev 2017, 21h48 - Publicado em 6 jun 2014, 16h36
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Desanimado com as tentativas de plantar sementes de lúpulo que havia iniciado alguns anos antes em seu sítio em São Bento do Sapucaí (SP), o agrônomo Rodrigo Veraldi decidira descartar o material na área de bota-fora de sua propriedade. “Dos sete ou oito diferentes grupos de sementes que plantei, um se desenvolveu, mas, com o verão chuvoso, ele acabava pegando doenças”, afirmou. Eis que, tempos depois do descarte, na estação de chuvas, ele passa pelo bota-fora. “Vi que, daquele material que eu tinha jogado fora, cresceu uma moita grande de lúpulo, que estava produzindo absurdamente.”

As raízes da planta original permanecem no local, e tornaram-se símbolo da experiência que deu certo “aos 48 minutos do segundo tempo”, no jargão futebolístico. Dela, foram retiradas mudas clone que, em maio deste ano, produziram de 10 a 12 quilos de lúpulo, dos quais pouco mais de um terço foi para a Cervejaria Baden Baden, de Campos do Jordão (SP), que utilizou o ingrediente na sua Heller Bock 15 anos, criada para festejar o aniversário da marca. Ingrediente que confere amargor, aromas e sabores à cerveja, o lúpulo, como eu escrevi no post anterior, não tem plantações em larga escala no Brasil, em grande parte devido a condições climáticas. Por isso, os cervejeiros nacionais são dependentes de outras nações produtoras da planta, como Estados Unidos, Bélgica, República Tcheca, Austrália, Nova Zelândia etc.

A história de Veraldi com o lúpulo começou há sete ou oito anos. Proprietário do Viveiro Frutopia – onde cultiva diversas variedades de frutas -, da vinícola e do restaurante Entre Vilas, ele recebeu de um amigo sementes de lúpulo e origem norte-americana. “Gosto muito de trabalhar com botânica e difundir tecnologia, por isso muita gente me traz plantas para propagação”, diz. “No caso do lúpulo, o primeiro passo foi separar machos e fêmeas, e com isso se passou um ano e meio até a floração.” Apenas os exemplares fêmeas são aproveitados na produção cervejeira. A partir daí, segundo Veraldi, foram mais dois ou três anos de avaliação e seleção de variedades mais resistentes até que ele chegou àquela do início do texto, que teve o problema com a chuva. Fez então o descarte e teve a surpresa alguns anos depois ao ver o lúpulo crescido e resistente à umidade elevada. No início do projeto, ele diz que, se o lúpulo não vingasse para fins de produção cervejeira, havia considerado tentar cultivá-lo como planta ornamental.

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Depois de conseguir plantas viáveis ao clima local, o próximo desafio de Veraldi é melhorar a qualidade da produção. Ele afirma ter fechado uma parceria com a Brasil Kirin, controladora da Baden Baden, para aperfeiçoamento técnico com ajuda da matriz da empresa, no Japão. Um dos desafios é melhorar o porcentual de alfa-ácidos, substância responsável por grande parte do amargor conferido pelo lúpulo à cerveja. Na colheita deste ano, ele ficou entre 1,5% e 2%, índice baixo comparado com outras variedades. “No próximo ciclo faremos uma avaliação melhor de solo e nutrição das plantas. Creio que podemos chegar a um índice de 4% a 5%.” O próximo plantio, calcula, deve chegar a um hectar e contar com 3 mil mudas. “O lúpulo demora algum tempo para atingir um bom nível de produtividade. Aquele arbusto que surgiu na área do descarte rendeu três quilos, índice alto, mas os mais novos produziram apenas alguns gramas.”

Veraldi também pretende resgatar algumas variedades que havia deixado de lado para cruzamento e aperfeiçoamento. “Para 2015 a produção ainda será pequena. Nosso forte será mesmo em 2016.” A experiência com plantio de lúpulo em território nacional, porém, ainda não tem nome. “Primeiro estamos seguindo os procedimentos de registro da variedade.” Ele espera que a plantação de lúpulo, assim como as outras que possui e cujas técnicas compartilha, ajude a criar novas oportunidades para a região e a valorizar o trabalho dos agricultores locais.

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