Carta ao leitor: À flor da pele
Redatora-chefe Alice Granato fala sobre a falta de oportunidades dadas às mulheres negras, tema da capa da semana
A matéria de capa desta edição é motivo de orgulho e emoção. As histórias de vida das personagens que estão na reportagem do talentoso Sérgio Quintella, com preciosa colaboração de Júlia Rodrigues, são marcos fundamentais de uma transformação em curso. Embora a realidade e os números comprovem que ainda existe um abismo entre as oportunidades dadas às mulheres negras em comparação às brancas, a conquista exemplar dessas lutadoras nos revela um caminho a seguir.
Nas Amarelinhas, o escritor e jornalista Laurentino Gomes, autor da trilogia Escravidão (Globo Livros), elucida bem isso ao olhar para o futuro. “Vai melhorar. Essa pauta é a mais importante na discussão da construção de um país democrático”, enfatiza. Ter a entrevista com Laurentino nesta edição é mais um motivo de orgulho. Tive o privilégio de trabalhar com ele por quatro anos na revista VEJA (de 1998 a 2002) e ali já sabia que sua pesquisa e escrita como autor best-seller iriam longe.
Para coroar essas conquistas vitais, temos o traço da artista visual paulistana Aline Bispo. Autora da capa desta edição, Aline, que também estampa o premiado romance Torto Arado (Todavia, 2019), de Itamar Vieira Junior, desenvolveu uma ilustração inédita para a VEJA SÃO PAULO. Na entrevista ao repórter Tomás Novaes, ela explica a presença marcante da espada-de-santa-bárbara na sua obra. “É muito resistente e altiva, cresce em direção ao alto. E, dentro do sincretismo afrobrasileiro, Santa Bárbara é a figura de Iansã, que carrega a potência feminina da luta”, conta. Sem mais, boa leitura, pois essa vitória é histórica.
Publicado em VEJA São Paulo de 5 de abril de 2024, edição nº 2887.