Quando eu era criança, coxinha era coxinha. Massa de batata, farinha de trigo e recheio de frango. Mas existiam as míticas coxas cremes, que nos davam a possibilidade de escolher a “cor da carne”. As escuras, eram coxas e sobrecoxas de frango. Deliciosamente cozidas, envoltas na massa, empanadas e fritas à perfeição. A versão branca era bem mais sem graça, um pedação do peito da ave — provavelmente uma adaptação para pessoas que são dadas a frescuras palatáveis.
Há alguns anos, descobri outro uso para coxinhas. Uma referência aos policiais que vivem a petiscar o nobre salgado nas portas dos comércios paulistanos. Ou ainda uma alusão à forma física de alguns membros da corporação (ou à falta dela). No meio jornalístico o ato de receber presentes também ganha um apelido gastronômico: jabá. Embora possa aparecer por aqui algum colega conclamando que jabá é uma corruptela do jabaculê (definido pelo dicionário Aurélio como “dinheiro”, “gorjeta”). Enfim, cá para o Rabo de Galo, que trata de questões estomacais, jabá vem de jabá: carne conservada no sal. E fim de papo.
Agora, há alguns meses, deram para dessacralizar a coxinha nossa de vossos estômagos. A massa leva um pouco de mandioquinha, até aí tudo bem. Mas o recheio… o recheio… . Rabada com agrião, joelho de porco com pimenta biquinho, bobó de camarão. Sim, esses clássicos do mundo botequeiro foram enfiados no meio da coxinha — ou a coxinha foi enfiada neles? O pior de tudo é que elas são bem boas, mas não podemos chamá-las de coxinhas. Que tal “joelhinha”, “rabinha” e “bobozinha”? Essas criações estão no cardápio do Original. Uma vez lá, não perca a oportunidade e peça por um dos mais cremosos chopes da cidade, as “coxinhas” agradecem.
Ah, para os extremamente corajosos há a versão da “coxinha” doce: brigadeiro com recheio de mousse de limão! Vai encarar, meu caro?
Ps.: O octogenário Bolonha ainda serve uma coxa creme, feita com coxa de frango.