O Museu da Imagem e do Som (MIS) prepara para fevereiro de 2022 uma exposição imersiva sobre a produção do pintor paulista Cândido Portinari (1903-1962). A mostra, que ainda não tem dia definido para a abertura, é parte da celebração do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922.
Deve ser realizada no braço tecnológico da instituição, o MIS Experience, no bairro da Água Branca, e conta com a curadoria de Marcello Dantas. Também há movimentações na unidade do Jardim Europa em torno de uma exibição focada em nomes como Tarsila do Amaral (1886-1973) e Mário de Andrade (1893-1945), entre outros personagens. A atividade, idem sob a batuta de Dantas, não foi, contudo, confirmada, porque a captação de recursos ainda está em andamento.
“Há nove núcleos na exposição. No primeiro deles, o visitante é convidado a entrar na paleta de Portinari. É uma experiência de cor em que é necessário ajustar os olhos para perceber os tons que ele imortalizou”, adianta o curador carioca sobre o percurso a ser feito. “É uma nova maneira de ler os trabalhos. Por meio da iluminação, elementos que passam despercebidos vão ser, por exemplo, destacados.” Ele frisa, entretanto, que não é uma tentativa de simular uma mostra com peças originais.
A exposição contará, além disso, com uma maquete que traz uma réplica do ateliê do pintor paulista; projeções desse lugar e também das obras produzidas por ele; e uma área onde os visitantes poderão ver seus rostos retratados ao modo “portinariano”, graças ao uso da inteligência artificial. Dantas pretende ainda cobrir parte do chão com café, fora e dentro de sacas. Como o grão não está torrado, o cheiro será mais leve, o que não deixa de apontar para uma experiência sinestésica.
A figura de Portinari, cabe dizer, talvez pareça estranha ao leitor, se em associação à Semana de 22. De fato, o pintor, nascido em Brodowski, não participou do movimento cultural propriamente dito. Apareceu mais tardiamente. Foi a partir dos anos 30 que começou a se tornar um dos nomes do modernismo brasileiro, vide O Lavrador de Café (1934). Com a bênção, vale dizer, de Getúlio Vargas, a quem interessava naquele momento a exaltação das diferentes etnias que formaram o povo brasileiro.
Sobre o lugar que Portinari alcançaria no contexto de ruptura, a pesquisadora Ana Paula Simioni, em artigo acadêmico, assegura: “Ele e Niemeyer foram consagrados definitivamente no âmbito internacional ao colaborarem na construção da sede das Nações Unidas: o arquiteto carioca foi um dos coautores do projeto do prédio e o pintor paulista realizou dois imensos painéis representando a guerra e a paz”. O reconhecimento tem outra faceta.
“A batalha para expandir e consolidar o modernismo brasileiro havia sido vencida. O modernismo se impôs como cânone nacional incontestável até o ingresso das linguagens construtivas no país durante os anos 1950”, pontua Ana.
Sobre a adesão do público à mostra há uma ambiciosa expectativa. “Acredito que 500 000 pessoas é o número a ser batido. Foi o que tivemos na exposição do Da Vinci”, projeta Marcos Mendonça, diretor-geral do MIS. Ele adianta, com exclusividade, que o MIS Experience vai expandir seu espaço, com a incorporação, no ano que vem, de uma construção vizinha ao espaço cultural. 2022, ainda bem, promete.
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Publicado em VEJA São Paulo de 3 de novembro de 2021, edição nº 2762