Você vê algo diferente neste pano de prato?
Por meio de vibradores e frutas que remetem ao erotismo, artista faz releitura dos tradicionais panos de prato
Na série Semaninha, a artista Debora Taiane, de 24 anos, faz uma discussão sobre sexualidade em um suporte pouco usual: os corriqueiros panos de prato. Confira abaixo uma conversa com a goiana.
Quando você começou a produção dessa série? Pintei toda a série em janeiro de 2020, no ateliê do Dalton de Paula, artista do qual sou assistente. A gestação do trabalho, entretanto, vem de antes. Durante meu trabalho de conclusão de curso, comecei a pensar sobre o espaço público e o espaço privado por uma perspectiva de gênero. Li naquela época Simone de Beauvoir (1908-1986). No fim, para a faculdade, entreguei algo mais ligado ao espaço público. Contudo, devido ao estímulo dado pela minha orientadora, a professora Manoela dos Anjos Afonso Rodrigues, da Faculdade de Artes Visuais de Goiás (FAV- UFG), esse recorte intimista ficou latente em mim.
O que aconteceu quando você olhou para esse lado mais intimista? Surgiram questões da infância na minha cidade natal, Bom Jardim de Goiás, que fica no interior. Lá, são bem retrógrados os papéis relacionados às mulheres. O espaço da cozinha é muito marcante nessa discussão, o casamento também. Lembrei da casa da minha mãe, dos panos de prato especiais, que não deveriam ser usados no cotidiano, mas sim como enfeites. Daí decidi subverter esse elemento.
De onde vieram esses panos de prato que você utilizou? Pedi que minha mãe comprasse, minha tia costurou as barras quadriculadas. Nesse processo, descobri que o conjunto com sete se chamava semaninha, que é o nome da série. E que conexões você tenta fazer por meio deles? A mulher tenta buscar seus direitos, mas eles são negados. A cozinha é um lugar que parece natural a ela, enquanto a busca pelo prazer não. A masturbação masculina é tida como algo comum, que é muitas vezes comentado. A feminina não, é vista muitas vezes como algo sujo, que não deve sequer ser mencionado. Os vibradores que eu retrato, de alguma forma, quebram esse tabu.
E as frutas? Elas fazem menção ao órgão sexual feminino e ao erotismo, como a maçã, a laranja e a romã.
Sua família gostou dos panos de prato? Eles não viram, minha mãe não tem muito interesse na minha carreira artística. Fiz uma troca com ela e minha tia. Elas me ajudaram a encontrar e costurar os panos de pra- to, e eu pintei alguns para elas — sem vibradores (risos).