O artista paulistano Mundano finalizou no último sábado (25) um mural em homenagem às vítimas do rompimento da barragem da Vale do Rio Doce em Brumadinho (MG). O trabalho, que é parte da segunda edição do programa municipal Museu de Arte de Rua (MAR), foi feito em uma das laterais do edifício Minerasil, localizado no número 667, da avenida Senador Queirós, no bairro da Santa Ifigênia, próximo ao Mercado Municipal de São Paulo.
A confecção do mural de Mundano, chamado Operários de Brumadinho, envolveu duas viagens à cidade em questão. A primeira ocorreu em fevereiro de 2019, um mês depois da tragédia. A segunda foi feita em dezembro do mesmo ano. “Foi muito doloroso ver o rio morto e falar com os moradores atingidos. Também participei de dois protestos e conversei com eles do desejo de utilizar a lama, que destruiu a cidade, para construir a obra. Ao final, eles concordaram ao entender que faríamos um monumento público em memória às vítimas”, conta o artista.
Mundano coletou 200 quilogramas da lama de rejeitos e amostras de solo em Brumadinho. Depois de peneirá-los, ele adicionou base acrílica, que é um material usado para confecção de peças de artesanato. Dessa mistura, nasceu a tinta que utilizou no mural que tem 50 metros de altura e 18 metros de largura. O tempo para erguer a obra foi de treze dias, entre a preparação da parede e a realização da pintura. “Não consegui medir o grau de toxicidade do material, mas acredito que o risco que fui exposto é infinitamente menor ao que das pessoas que moram lá e dos bombeiros que participaram da busca”, explica Mundano.
A reunião de rostos que aparece no mural do artista, além da referência direta às vítimas do rompimento da barragem, também dialoga com a obra Operários (1933), de Tarsila do Amaral. A tela, uma das mais importantes na produção da pintora paulista, pode ser vista em uma visita gratuita no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual.