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Arte ao Redor

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Artista do México que perdeu a visão expõe, em SP, lembranças da infância

Manuel Solano seguiu fazendo arte mesmo após a perda. Suas obras estão em cartaz no espaço Pivô, no Edifício Copan

Por Tatiane de Assis Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 1 out 2021, 17h51 - Publicado em 1 out 2021, 06h00
Uma pessoa está de terno bem próxima a uma parede verde e posa de frente para a foto. Usa brincos e tem franjas nos cabelos
Manuel Solano: do México até São Paulo (Mike D’hondt/Divulgação)
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Manuel Solano, 34 anos, não é de afirmações impulsivas. Quando VEJA SÃO PAULO, por ocasião de sua exposição no espaço Pivô, em cartaz até 6 de novembro, pergunta sobre a cena das artes visuais no México, onde nasceu, o que chega é sinceridade e ponderação: “Não há muito apoio, tive uma trajetória diferente, com muitos holofotes, mas a regra por lá não é essa. Mas não me sinto confortável para falar, já que estou morando em Berlim”.

Duas telas retratam um shopping center. Na primeira, vemos uma redoma de vidro no topo, os andares e um elevador de frente para o vão. Na outra, é a visão do elevador para o vão, vendo um chafariz, uma lanchonete, lojas e mesas
Díptico
(duas telas) Heliplaza: contra
generalizações
e a favor das
lembranças afetivas (Matthias Kolb/Divulgação)

Essa segurança em ir contra a maré também se observa em sua pintura, em específico no díptico Heliplaza (acima; 2021), que dá nome à mostra e faz referência a um shopping center do subúrbio da Cidade do México, ao qual Solano ia na infância. “É muito fácil ver na arte contemporânea a relação desses lugares com o consumismo, capitalismo. Procuro, porém, ir além”, pontua, nos convidando a remexer em nossa memória e rever passeios em família nesses locais, que com o texto envidraçado, vide as telas em questão, podem também servir para acompanhar o movimento das nuvens no céu.

Devido a complicações do vírus HIV, Solano perdeu a visão em 2013. Voltou à pintura graças à amizade de René, que mora no México e traduz para o papel as paisagens narradas pelo telefone. Depois de impressos, esses desenhos são riscados. Solano trabalha na tela com os dedos. As áreas da composição são delimitadas com alfinetes e cordões, postos por seus assistentes. “Antes, fazia sem perguntar a ninguém e não tinha um resultado tão bom. Agora, de forma colaborativa, chego a lugares mais interessantes”, afirma.

Solano é uma pessoa não binária e prefere, quando abordada em inglês, pronomes no plural. Em português, é possível seguir em caminho parecido com o “de”, mas o nós também parece pertinente. Ainda mais que na mostra de Solano & Cia no Pivô, nos sentimos em grupo. Nas espreguiçadeiras disponíveis para ver os trabalhos, mesmo que você não tenha uma companhia (vacinada e com distanciamento social), se lembra dos tempos de clube cheio, sol e muita música. Os sons do prédio ao lado também chegam, formando um vuco-vuco imaginário, que não pode ser traduzido pela retina. Tal qual as telas depois de prontas para Solano, o que nos mostra que a pintura também pode ser toque. E muitas lembranças.

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Publicado em VEJA São Paulo de 6 de outubro de 2021, edição nº 2758

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