Com curadoria de Fernando Oliva e Adriano Pedrosa, diretor artístico do Masp, a mostra Degas está em cartaz no museu cartão-postal da Avenida Paulista. São exibidas 76 esculturas do artista, que viveu entre 1834 e 1917. Há também quinze fotografias da paulista Sofia Borges, que foi uma das cocuradoras da 33ª edição da Bienal de Artes de São Paulo.
Um dos trunfos da exposição é apresentar ao público esse conjunto de peças, parte do acervo da instituição. Vale reforçar que a última vez que os trabalhos estiveram em exibição foi há longínquos catorze anos. Outra questão é que, além da proposta estética, é abordado o contexto histórico e social em que se deu a produção do pintor, escultor e gravurista.
A discussão se faz fundamental para olhar com muita atenção para A Bailarina de 14 Anos (1880), obra em destaque e que o visitante encontra logo ao entrar no espaço expositivo. “Nota-se nessa escultura, feita em bronze, uma tentativa de reprodução realista. Degas reforça isso ao adicionar elementos, como o laço de fita e o tutu de tecido”, explica Oliva. A expressão da garota, de olhos fechados e maxilar tenso, pode ser associada à prática exaustiva dos ensaios de balé aos quais se submetia. Também parece indicar a resignação de uma adolescente que persiste em direção a um objetivo, mesmo numa possível avalanche de dificuldades.
A jovem, que Degas retratou, se chamava Marie van Goethem. Como muitas outras que se colavam às sapatilhas, ela vinha de família pobre e via na dança clássica, na Paris do século XIX, uma forma de mobilidade social. Uma situação que se repete e nos lembra um pouco o que significa o futebol para garotos que vivem nas periferias do Brasil, não é mesmo?
> Masp. Avenida Paulista, 1578. Tel.: 3149-5959. Terça, 10h às 17h30; quarta a domingo, 12h às 17h30. R$ 45,00. Grátis às terças. Até 1º de agosto.
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Publicado em VEJA São Paulo de 23 de junho de 2021, edição nº 2743