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Ex-figurinista da Globo fala sobre guarda-roupa de Tarsila do Amaral

A fluminense Emilia Duncan foi responsável por vestir os personagens de 'Um Só Coração', minissérie que reconstruía São Paulo no início do século XX

Por Tatiane de Assis Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 10 abr 2019, 14h41 - Publicado em 10 abr 2019, 14h40
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  • No começo dos anos 2000, Tarsila do Amaral (1886-1973) passou a ser um nome frequente no cotidiano de Emilia Duncan, 60. Na época, a fluminense era figurinista da TV Globo e responsável por pensar as roupas para os personagens da minissérie Um Só Coração. A atração, exibida em 2004, rememorava São Paulo entre os anos 1922 e 1954, o que incluía o movimento modernista, do qual a grande pintora paulista foi parte.

    Apesar da fama que Tarsila alcançou em vida e na posteridade, o trajeto para pensar seu figurino não foi fácil. “Eu trabalhei guiada por pistas, já que não havia um texto ou análise que dissesse que ela se vestia daquele ou desse modo”, lembra. Nesse quebra-cabeça, as peças foram: cartas, fotos e pinturas da estrela, acrescidas de informações sobre os estilistas que dominavam seu guarda-roupa, os franceses Paul Poiret (1879-1944) e Jean Patou (1880-1936).

    paul-poiret
    Paul Poiret (1879-1944) (Domínio Público/Veja SP)
    Jean_Patou-domínio público
    Jean Patou (1880-1936) (Domínio Público/Veja SP)

    “Em uma foto antiga de um passaporte da Tarsila, a vi com uma túnica bordada em um estilo que me pareceu eslavo. Relacionei essa peça com a presença maciça de exilados russos em Paris nessa época, o que influenciou a moda francesa. A imagem sinalizou a presença de elementos étnicos em seu guarda-roupa”, explica.

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    Poiret, apesar de onipresente na vida de Tarsila, surgiu de forma mais evidente na pesquisa de Emilia quando ela viu o vestido que o estilista criou para a pintora usar em sua primeira exposição em Paris, em 1926. “Guiado talvez por um revival da moda inglesa vitoriana, ele escolheu uma estampa xadrez. Esse padrão, se pensarmos no Brasil, no entanto, é uma grande referência à tradição caipira, que Tarsila conhece muito bem. Não acho que ele fez isso propositalmente, é uma coincidência que sinaliza essa ambiguidade da pintora, que é uma personagem que bebe da vanguarda e da tradição.”

    Para quem não entende muito de moda, Emilia diz que Poiret pode ser considerado um revolucionário na área, já que ele representa uma nova maneira de vestir, que liberta o corpo feminino dos espartilhos. Jean Patou (1880-1936) segue na mesma toada, mas sem ser tão reconhecido. Em exposição de figurinos da minissérie, na faculdade Anhembi Morumbi, a figurinista mostrou uma réplica de um modelo criado por ele, o mantô usado por Tarsila na obra Autorretrato – Manto Vermelho, feito em 1923.

     

    Mantô Tarsila
    Réplica de roupa de Tarsila do Amaral, que foi exposta na faculdade Anhembi Morumbi: a pintora usou a veste em Autorretrato — Manto Vermelho (1923) (Divulgação/Divulgação)
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