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Galeria A Gentil Carioca faz sua primeira expansão e chega a Higienópolis

Em meio à pandemia, entidade conhecida por lançar nomes de peso chega à capital paulista

Por Tatiane de Assis Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
6 ago 2021, 06h00
Foto mostra interior de uma galeria. Paredes brancas, algumas obras expostas no chão e outras nas paredes
Espaço numa vila: novidade no circuito das artes (Leo Martins/Veja SP)
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A galeria A Gentil Carioca, que fica no centro do Rio, inaugura sua filial no próximo sábado (7). A unidade vai ocupar o térreo do sobradinho de número 108 da Travessa Dona Paula, imóvel tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp).

O clima por lá é de refúgio, já que se trata de uma vila de casas, a 200 metros da barulhenta Rua da Consolação. Nesse universo de quietude, o vistante depara com trepadeiras agarradas em arcos, que criam uma espécie de passarela vazada na entrada, e gente na rua, sentada em bancos, tomando um solzinho e jogando papo fora.

Homem grisalho se apoia em uma parede de uma galeria com os braços cruzados e sorri para a foto
Márcio Botner: sócio da galeria A Gentil Carioca (Leo Martins/Veja SP)

A mostra de inauguração de A Gentil será uma coletiva chamada Bumbum Paticumbum Prugurundum, samba-enredo da Império Serrano em 1982. Reunirá todos os dezesseis artistas do portfólio. São nomes como Arjan Martins, que participa da Bienal de São Paulo em 2021, Marcela Cantuária, que desenvolveu uma parceria recente com Marisa Monte (leia mais abaixo), e Maxwell Alexandre, que estava com a exposição Pardo É Papel em cartaz no Instituto Tomie Ohtake.

“A arte é mais do que cubos brancos”, diz Márcio Botner, um dos sócios, ao descrever a nova área da galeria, de metragem modesta. Os cerca de 100 metros quadrados foram muito bem otimizados pelo escritório Canoa Arquitetura, que encontrou soluções interessantes para acomodar, além do espaço expositivo, um jardim interno, uma minirreserva técnica, depósito, cozinha e banheiro.

Foto é de uma pintura em tela que tem várias pessoas retratadas em grupos com cores distintas, em rosa e verde. Há crianças, idosos e adultos
Obras de Marcela Cantuária: tela As Três Idades de Elizabeth Teixeira (2021) (Leo Martins/Divulgação)
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Botner fundou A Gentil em 2003 com dois outros amigos artistas, os hoje renomados Laura Lima e Ernesto Neto. A primeira sede da galeria, que completa dezoito anos em setembro, foi no ateliê dele. Agora, a trupe tem o reforço de outra sócia, a italiana Elsa Ravazzolo Botner, que, como indica o sobrenome, é também esposa de Márcio. O casal, que cuida do dia a dia do negócio, vai fazer da ponte aérea Rio-São Paulo uma grande amiga para dar conta do novo braço paulistano.

Eles vão contar ainda com as contribuições do curador Ricardo Sardenberg na direção artística e de Ton Martins na gerência do espaço. “Dizem que crises podem gerar oportunidades e foi isso que aconteceu com a gente”, explica Botner. “Com a pandemia, não pudemos participar das feiras internacionais. Cinquenta por cento dos colecionadores que adquirem obras da galeria são de fora, europeus e americanos. São Paulo foi então uma forma de expandir, de abrir o leque. Com uma base aqui, também ficamos mais perto de amigos. O Sardenberg, por exemplo, toca o Projeto Vênus, em uma casa ali perto da nossa, na vila.”

Se essa vinda de A Gentil para São Paulo desencadeará outros movimentos de galerias cariocas, somente a pandemia dirá. Já o tempo será responsável pela realização ou não da Abre Alas por aqui, mostra conhecida no Rio por revelar novos nomes da cena contemporânea. Enquanto as respostas não vêm, as boas-vindas já estão dadas por Luciana Brito, presidente da Associação Brasileira de Arte Contemporânea (Abact).

“Acho muito positiva a vinda deles para cá. Isso só soma ao circuito paulistano”, afirma Luciana, que vê a filial do empreendimento como uma reação do mercado à crise. “Em um primeiro momento da pandemia, houve um pânico geral, que foi visto em todos os setores. Depois teve uma união muito grande, em nível nacional. Todo mundo sobreviveu e agora estamos até crescendo.”

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Pinturas pra ouvir

Oratório com portas é pintado bem colorido. Tem uma garota de costas no mar estampada. Há sóis, árvores, estrelas e outros elementos da natureza na arte
Obras de Marcela Cantuária: cenas pintadas em um oratório, parte do projeto com Marisa Monte (Vicente de Mello/Divulgação)

A artista Marcela Cantuária, 30 anos, não faz pose blasé ao falar do projeto em parceria com Marisa Monte. Ela produziu mais de uma dezena de obras, entre portas, almofadas e um oratório, inspiradas no novo disco da cantora, Portas, lançado em julho de 2021. “Ouço muita MPB na hora de pintar, boto muito Marisa para tocar no meu ateliê. Então, quando veio o convite dela, fiquei radiante. É uma pessoa que admiro muito”, diz. A produção dos trabalhos começou no fim de janeiro e foi até abril. Em uma das cenas, vemos Marisa sentada em uma cadeira, cercada por espadas-de-são-jorge, flores, um bicho-preguiça e seu violão. Os tons são vibrantes, tanto quanto a fala de Marcela.

Oratório com portas é pintado com uma mulher dançando no centro. Arte bem colorida. Há um violão, cactos, animais, pássaros e folhas dispostos na obra
Oratório: outra parte da obra (Vicente de Mello/Divulgação)

+Assine a Vejinha a partir de 8,90.

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Publicado em VEJA São Paulo de 11 de agosto de 2021, edição nº 2750

 

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