A partir deste sábado (1º), quem passar em frente de A Casa do Porco Bar vai notar uma movimentação diferente. Não, o restaurante de cozinha brasileira ainda não foi reaberto, o que deve acontecer em duas semanas, e segue com o sistema de delivery bombando. Trata-se de uma reforma na calçada e no leito da rua em frente que permitirá que o estabelecimento ganhe lugares extras na área externa. Esse complemento do salão para o lado de fora se alinha com medidas tomadas em outras metrópoles mundo afora, como Nova York, Paris e Milão.
Desde o início da pandemia, a prefeitura vem estudando formas de facilitar e baratear o Termo de Permissão de Uso (TPU) de áreas públicas por meio de uma ação multidisciplinar de vários órgãos municipais, tocada pelo secretário de Desenvolvimento Urbano, Fernando Chucre. “Definimos as diretrizes, que, futuramente, poderão ser aplicadas em toda a cidade”, diz ele. Uma delas é a ocupação das calçadas mais largas, que deverão manter 1,2 metro livre de circulação para pedestres; outra, dispor de lavatórios ou totens de álcool em gel.
O pedaço do centro colado à Praça da República, compreendido entre as ruas Major Sertório, General Jardim, Bento Freitas e Araújo, vai funcionar como balão de ensaio para quase casas que existem na região. Além de endereços badalados, como o La Guapa Empanadas e o bar Sertó, estão ali lugares mais simples, caso do pê-efe Coco Verde e da churrascaria Boi na Brasa, que existe desde 1966.
Esse piloto que começa no fim de semana, batizado de Ocupa Rua, é uma iniciativa da jornalista Alexandra Forbes com Jefferson e Janaína Rueda, de A Casa do Porco Bar e do Bar da Dona Onça, mais a Metro Arquitetos, de Gustavo Cedroni e Martin Corullon, que desenvolveu todo o projeto sem cobrar um centavo. Depois de reuniões virtuais com o prefeito Bruno Covas em maio, Alexandra passou o chapéu entre amigos e empresas para levantar 450.000 reais para executar a obra. “Queríamos fazer algo bonito e com o mesmo padrão visual. A ideia é dar aos estabelecimentos toda a obra”, enfatiza. Entre as medidas adotadas, os parklets serão nivelados à calçada com a colocação de placas metálicas e haverá pintura indicativa do passeio, assim como do leito carroçável.
Na lista de exigências da prefeitura estão vasos de concreto para proteger quem for ficar nas mesas da rua. São peças que, vazias, pesam entre 180 e 220 quilos e serão colocadas com a ajuda de guindastes. “Um amigo, que quer se manter anônimo, pagou por todos os vasos que já estão em produção”, conta Alexandra. Essas jardineiras serão colocadas ainda em esquinas como uma forma de controlar o trânsito. Foram acionados, sem custos, profissionais como o paisagista Marcelo Faisal para cuidar da jardinagem, que vai usar árvores e plantas da Mata Atlântica doadas por Rodrigo Ciriello, da Futuro Florestal, por Patrick Assumpção, da fazenda Coruputuba, e por Alexandre Vicintim, da Fábrica de Árvores, além de hortaliças e ervas cedidas por Rodrigo Rivellino, do sítio KM 75.
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A área foi dividida em três setores, cada um com patrocinador. “A divisão do projeto por trechos visa a não bloquear todas as ruas ao mesmo tempo com as reformas”, explica Cedroni. Na Rua General Jardim e entorno, onde está A Casa do Porco Bar, a remodelação é bancada pela Heineken. Junto ao Copan, que ainda aguarda a aprovação do síndico por se tratar de um edifício tombado, o uísque Johnnie Walker vai pôr a quantia necessária. É ali também que será inaugurada a livraria Megafauna, de Fernanda Diamant, onde será instalado um café com consultoria de Bel Coelho. Ainda em fase de assinatura, o Magazine Luiza (Magalu) deve assumir os endereços da Rua Major Sertório.
Além de A Casa do Porco Bar, na General Jardim serão contemplados o JazzB, a Escola da Cidade, o Bar e Lanches JK, a Lanchonete e Restaurante da Cidade (Xangô), o Z Deli, a Pratada e a Aliança Francesa, onde há uma filial da Pâtisserie Douce France (fechada no momento), além de Minas Chic 3, Freitas Beer, Berton Grill e Boi na Brasa na Rua Bento Freitas. “Quando A Casa do Porco reabrir, na segunda semana de agosto, a gente vai fazer tudo para evitar aglomeração na rua. Teremos uma cartilha educativa e pessoas que vão nos ajudar para que os clientes não fiquem próximos”, adianta Janaína Rueda. “Atendíamos entre 15.000 e 16.000 clientes por mês e tivemos um prejuízo imenso”. Os cuidados com o retorno são tantos que Janaína, que já pôs em funcionamento o Bar da Dona Onça, opera com 30% da capacidade, 10% menos do que o permitido por lei.
No momento, há tratativas com Churcre e membros de outras secretarias para estender o piloto ao Itaim Bibi. O projeto do centro é o ponto de partida para que estabelecimentos gastronômicos tenham uma chance extra de sobrevivência. E uma possibilidade de colocar as pessoas na rua, no espaço que é de todos, ao mesmo tempo que ajuda a restringir a circulação de carros.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 05 de agosto de 2020, edição nº 2698.
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