Fim de ano é sempre o momento de fazer um balanço das melhores estreias da última temporada. Seria muito fácil apontar os 5 que se destacaram como fiz em 2017 – você pode ler o ranking anterior clicando aqui).
Para fechar 2018, pensei diferente, selecionei 12 restaurantes, colocando sempre em primeiro plano a qualidade de suas cozinhas. Esses endereços estão agrupados em trios, com o campeão deles sempre vindo em primeiro, e divididos em quatro categorias.
Os títulos escolhidos para cada uma delas são autoexplicativos. Ainda assim, acho que cabe reforçar o que quis dizer ao leitor.
Em “Campeões de Bilheteria”, estão lugares que causaram curiosidade antes mesmo da inauguração e tornaram-se fenômenos de público.
“Ao Ponto” concentra casas que cumprem a proposta de seus menus e deixam um gostinho de quero mais.
Em “As grandes promessas”, destaco chefs que dão os primeiros passos na cozinha como titulares desse território difícil e sempre com muito talento.
“Felicidade do bolso” traz locais que todo bom de garfo adora. Além de comida de qualidade, não esfolam a carteira na hora da conta.
Ficaram de fora dessa criteriosa seleção dois endereços inaugurados quase no apagar de 2018. Como ainda não os visitei, levarei em consideração só no balanço de 2019: Neto e Nobu.
Campeões de bilheteria
Fala-se aqui de um restaurante de destino. No topo do Museu de Arte Contemporânea, o Vista é de difícil acesso e funciona a maior parte do tempo no jantar. A localização não impediu que multidões lotassem o seu salão desde a inauguração em abril. O que garantiu ao Vista o prêmio de a estreia do ano da edição especial VEJA COMER & BEBER não foi o panorama impactante que se desfruta do Ibirapuera, mas o cardápio do chef Marcelo Corrêa Bastos. Com o fechamento do Esquina Mocotó, o Vista garfa ainda o título de melhor restaurante brasileiro de São Paulo. Merece aplausos.
Imperador de um pedacinho do Itaim, o chef Rodolfo De Santis emplacou mais um sucesso. Ao lado do bombado Nino Cucina, o cozinheiro italiano montou o Da Marino, que em vez de massas e carnes, apresenta um menu do mar.
Dona do premiado Chou, a chef Gabriela Barretto montou com a irmã, Karina, o Futuro Refeitório no galpão de um antigo estacionamento. O menu expresso, oferecido em combos na hora do almoço, torna-se mais suave no jantar. É quando as escolhas podem ser individuais. Em vez de carnes, a cozinheira privilegia os vegetais, quase todos orgânicos.
Ao ponto
Os irmãos Shemuel, Marcelo, Bruno e Rafael Shoel, os mesmos do The Dog Haüs, se uniram a dois investidores para montar essa churrascaria de pegada americana na parte, digamos, mais tranquila da Rua Amauri. As ótimas carnes saem da grelha sem erro, no ponto pedido. Bons complementos arredondam a refeição.
Assadas em forno elétrico, as pedidas dessa casa derivada e vizinha d’A Queijaria tem tamanho individual e número limitado de coberturas que estão a anos luz da Itália. Todas são feitas com queijos nacionais e a maioria delas é sazonal. Sem limites para boas invenções, uma delas leva içás do Vale do Paraíba. Peça sem medo. Fica muito bom.
Mytho
A culinária grega é uma forte inspiração para o novato que ocupa o ponto deixado pelo extinto Momotaro, na Vila Nova Conceição. Em vez de seguir todos os clássicos ao pé da letra, o chef Bruno Peralta faz, por exemplo, a mussaká com creme de queijo de cabra e ainda põe, de acompanhamento, batata-doce palha. E acerta.
Grandes promessas
Sustentabilidade. Essa é a palavra que norteia o chef e sócio Cesar Costa. Ele processa a maioria dos ingredientes servidos no restaurante, entre eles o cacau, que transforma em chocolate. Também foca em matérias-primas orgânicas. O descarte está entre suas preocupações. Por isso, mantém para as sobras uma máquina de compostagem exposta na entrada do salão. Mas o que fascina o público são as receitas que ele prepara com uma equipe jovem e afinada. Seus maiores acertos são os pratos vegetarianos como o “steak” de couve-flor, que saiu do cardápio mas deixou saudade.
Para quem começou vendendo apenas um ótimo pão de queijo, a mineira Manuelle Ferraz deu um tremendo salto. Neste ano, ela transformou seu café num restaurante de serviço moroso e comida adorável numa área improvável da Barra Funda. A chef revisita o Brasil, ou melhor, a fronteira entre Minas Gerais e Bahia, no Vale do Jequitinhonha – daí o nome Baianeira. Um detalhe: o cardápio é sazonal de verdade. Raros pratos são permanentes, com exceção da ótima feijoada, às quartas e aos sábados. A casa tem ainda uma vantagem extra: preços para lá de convidativos. Tanto que também poderia estar tranquilamente na categoria “Felicidade no bolso”.
V.E.R.A.
Ele não tem medo de se arriscar por uma cozinha autoral. Assim é o trabalho do chef Bruno Hoffmann, que passou por casas como o Vito, na época de André Mifano, e mais recentemente, no Petí Gastronomia, de Victor Dimitrow. Em sua estreia como titular nessa casa de Perdizes, o cozinheiro combina diferentes ingredientes na maioria das vezes com muito equilíbrio. Comprova os acertos, uma nova versão do gravlax, o salmão defumado típico da Escandinávia, mas que na mão dele ganham sabor de impressionar.
Felicidade do bolso
Se um Kouzina era bom, imagine dois. Tudo fica melhor ainda se a unidade mais recente for maior e mais confortável que a casa-mãe. E cobrar os mesmos preços da matriz dos Jardins. As receitas são as mesmas, organizadas num atraente cardápio pela chef Mariana Fonseca, que se prepara para abrir uma terceira filial, desta vez no Shopping Cidade Jardim.
O chef colombiano Dagoberto Torres, conhecido pelo bom trabalho desenvolvido no Suri Ceviche Bar, passou um período sabático e pós o pé na estrada. No fim de um longo hiato, acabou voltando a São Paulo. Numa charmosa galeria da Rua Augusta, ele montou o Barú no ponto antes ocupado por uma livraria de gastronomia. Sem firulas, Torres faz bons ceviches e outros pratos de pescados por uma pechincha.
Sempre conhecido pelos preços tão salgados quanto os do bacalhau, os restaurantes portugueses ganharam nessa temporada um concorrente de valor. O Costa Nova chega para quebrar essa tradição inflacionária. Postas ou lascas do nobre Gadus morrhua aparecem em várias receitas e são um convite para voltar ao restaurante com pinta de tasca, de Emanuel Marques, ex-maître do extinto Tartar&Co.
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