Um dos endereços gastronômicos mais nobres da cidade não poderá mais usar o nome que o consagrou depois de 22 anos de história na cidade.
A partir de hoje, o restaurante Antiquarius, nos Jardins, está proibido de empregar a denominação que pertence ao português Carlos Perico, dono da matriz no Rio de Janeiro. Filho do fundador do estabelecimento, localizado no Leblon, e um dos responsáveis pela administração do negócio, António Perico estava insatisfeito com a situação da unidade paulistana, em particular com os constantes boatos de falência que rondavam o estabelecimento.
“É preciso ficar claro que o Antiquarius Rio não está numa situação ruim, nem falindo. Muito pelo contrário. Temos ainda outras marcas – o Antiquarius Grill e o Da Silva – que vão muito bem. O problema é o Antiquarius aí em São Paulo, nas mãos do meu ex-cunhado, Thales Martins”, queixou-se António na conversa que tivemos por telefone. As reclamações não cessaram aí. Perico também afirmou que Martins nunca honrou o contrato que tinham para uso da marca.
Procurei por Martins, que evitou o assunto. “Ainda não há nada definido. Tão logo tenhamos uma posição, todo mundo ficará sabendo”, disse. A resposta veio de Perico que informou o rompimento, resultado de uma notificação extrajudicial de 29 de agosto proibindo o uso do nome pela casa paulistana. Depois de uma reunião realizada no Rio entre advogados das duas partes, na quinta passada, ficou acordado que a proibição passa a vigorar a partir de hoje. Aos menos da parte de Perico.
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Quem ligar para o restaurante, porém, não saberá desse veto. Os funcionários continuam a atender o telefone e fazer reservas no nome de Antiquarius.
O problema de gestão do endereço paulistano não é recente, mas aflorou fortemente agora. Sem se identificar, os funcionários do restaurante contam que havia constantes atrasos de salários, bem como não se efetuavam depósitos de fundo de garantia ou pagamento de tributos, como o INSS. O maior problema residiria justamente no passivo trabalhista, além de débitos com fornecedores.
Para seguir em funcionamento, Martins tentou a venda para um grupo português, sem sucesso. Em agosto, quando o restaurante ficou fechado por uma semana por falta de matérias-primas, o empresário conseguiu se associar ao português Rui Rodrigues, proprietário do restaurante Dom Afonso, em Sorocaba, e de hotéis pelo interior do estado. Rodrigues garantiu coisas essenciais como o abastecimento da cozinha.
Diante da ação movida por Perico, a situação tornou-se tão dramática que Rodrigues disse para a equipe que sua intenção é mudar-se para outro endereço nos Jardins, caso não consiga acertar as luvas do aluguel do imóvel ocupado pelo restaurante desde a inauguração. Mas, não sabe se será possível. Em qualquer uma das situações, o Antiquarius deixará de existir, mas não por muito tempo. “Pretendo esperar as coisas esfriarem um pouco e voltar a São Paulo no ano que vem. A capital paulista é uma praça que nos interessa muito”, avisa António Perico.
É triste ver definhar assim um restaurante de qualidade excepcional, um modelo para outros lusos na cidade. Foi sua excelência em anos anteriores que motivou o aparecimento de portugueses de primeira. São crias do Antiquarius abertas por alguns de seus ex-funcionários o A bela Sintra, eleito por VEJA SÃO PAULO o melhor de sua categoria na cidade, assim como o Bacalhoeiro, que tem um ex-cozinheiro como titular do fogão, e a Tasca do Zé e da Maria. A casa da Alameda Lorena deve desaparecer em um desfecho sem glórias.