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OLÁ,

Teatro Oficina luta contra projeto para verticalizar o Bixiga

O empresário começou a comprar terrenos na área ainda nos anos 1980; agora, quer construir torres residenciais no entorno do espaço

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 1 dez 2017, 06h00 - Publicado em 1 dez 2017, 06h00
Manifestação no dia 26: apoio de 1 500 pessoas ao teatro (Rafael Arbex/Estadão Conteúdo)
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No último dia 26, o entorno do Teatro Oficina, na Rua Jaceguai, 520, no Bixiga, recebeu o abraço simbólico de mais de 1 500 pessoas, com carros de som, performances e um banho de mangueira para lavar as “energias negativas”, em um protesto que seguiu pelas ruas do bairro da região central.

O ato, convocado pelo diretor Zé Celso Martinez Corrêa, contou com a participação de personalidades como o vereador Eduardo Suplicy, os atores Alexandre Borges e Cassio Scapin e a atriz Denise Fraga. “Eu recuperei as minhas forças quando vi essa mobilização pelas ruas e percebi que, juntos, podemos lutar contra os inimigos”, afirma Zé Celso. O inimigo em questão é poderoso: Silvio Santos. E não parece disposto a recuar.

No começo dos anos 1980, o apresentador e empresário comprou vários imóveis nas ruas Jaceguai, Abolição, Santo Amaro e Japurá. A ideia inicial era erguer um shopping center. Agora o plano envolve a construção de torres residenciais numa área de quase 11 000 metros quadrados.

TEATRO OFICINA
Interior do Teatro Oficina, no Bixiga (Jennifer Glass/Veja SP)

De acordo com Zé Celso, os edifícios comprometeriam o entorno do Oficina, como a imensa janela da fachada lateral, e representariam o pontapé inicial em um processo de verticalização capaz de descaracterizar o bairro. No ano passado, o Condephaat, órgão estadual encarregado da preservação do patrimônio histórico, havia barrado o projeto. Há um mês, no entanto, a decisão acabou sendo revertida.

O prédio do teatro em si, é importante dizer, não sofre risco algum. O espaço cultural, reformado na década de 80 pela arquiteta Lina Bo Bardi, a mesma do Masp e do Sesc Pompeia, foi tombado por órgãos de preservação do patrimônio histórico estadual e federal.

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Zé Celso e Silvio se encontraram algumas vezes para discutir a questão. A última delas ocorreu no mês de agosto, em uma conversa mediada pelo prefeito João Doria. Os detalhes disso vieram a público em 29 de outubro, quando a jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, divulgou um registro em vídeo. Na reunião, diretor e apresentador trocam farpas, fazem piadas um com o outro e nenhuma solução prática é encontrada.

O diretor Zé Celso
O diretor Zé Celso, que sugere a construção de um parque no local (Ivan Pacheco/Veja SP)

Uma nova rodada de mediação estava marcada para a metade de novembro. Irritado com a divulgação do vídeo, atribuída por ele à turma do Oficina, Silvio Santos cancelou o compromisso e mandou dizer que só aceita agora discutir o caso na Justiça.

Zé Celso quer obter apoio para transformar o terreno em um parque. “Desisti de construir ali um teatro ao ar livre, como previa o projeto da Lina, porque a cidade precisa mesmo é de áreas verdes, e não de mais cimento”, declara o artista. “Estamos em contato com a Unesco para evitar esse genocídio do Bixiga que eles chamam de revitalização”, completa.

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Procurado por VEJA SÃO PAULO, o Grupo Silvio Santos afirma que não se manifestará sobre o imbróglio e parece firme no seu propósito de decidir na Justiça o destino do terreno que lhe pertence. O empresário depende, agora, do aval de mais dois órgãos técnicos para dar início às obras: Iphan e Conpresp.

O bairro paulistano, que foi povoado por imigrantes italianos, mantém a tradição com sobrados centenários, cantinas para refeições fartas e festas populares. Há pelo menos sete décadas é território das artes e ficou conhecido como a Broadway paulistana entre os anos 60 e 70. Além do Oficina, funcionam por lá hoje outros teatros importantes, como o Sérgio Cardoso e o Renault.

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Empresário espera a decisão da Justiça (Divulgação/Veja SP)

O projeto do empresário teria forte impacto no trânsito das estreitas vias, no pequeno comércio e na rotina dos moradores. “A discussão diz respeito ao futuro da cidade, já que é questionável quando a urbanização desrespeita bens tombados em uma região de características históricas”, argumenta o arquiteto Guilherme Petrella.

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POLÊMICA DURADOURA

Em 1961, o Teatro Oficina, com projeto de Joaquim Guedes, é inaugurado.

O teatro se incendeia em 1966. Reabre no ano seguinte com O Rei da Vela.

Em 1980, Silvio Santos começa a comprar terrenos nas ruas Jaceguai, Abolição, Santo Amaro e Japurá.

O governo do Estado assina o tombamento histórico do Oficina, em 1983.

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Em 1984, os arquitetos Lina Bo Bardi e Edson Elito começam a reforma, que duraria uma década.

Em 1997, Silvio Santos ganha autorização para a construção de um shopping no terreno vizinho.

Em 23 de outubro de 2017, o Condephaat contraria decisão deferida no ano anterior para preservar a área no entorno do teatro e autoriza o Grupo Silvio Santos a construir um empreendimento no local.

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