Para quem se posta diante do balcão de uma cafeteria, tirar um expresso pode parecer tarefa simples. Afinal, basta colocar o pó, posicionar a xícara e apertar um botão, certo? Não é bem assim. Por trás desse processo há muita técnica. Quem cuida da seleção dos grãos, da temperatura dos ingredientes, da pressão da máquina e do ajuste do moinho, por exemplo, é o barista. Rea-lizado no mês passado, no MuBE, o 8º Campeonato Brasileiro de Baristas escolheu o melhor nesse ofício. A campeã foi a paulistana Yara Thais Castanho, de 25 anos, que derrotou 23 concorrentes. Além de expressos e cappuccinos cremosos, ela teve de apresentar aos juízes um drinque de sua autoria, cuja fórmula só ficou pronta dias antes da prova. “Eu queria muito usar lavanda”, conta. “Tem xampu com lavanda, condicionador com lavanda… Por que não café com lavanda?” Mas custou até que ela encontrasse uma base para misturar os dois ingredientes. Depois de tentar combinações com clara em neve e gelatina – sem sucesso – , Yara achou na internet e em livros uma receita à base de creme de leite fresco e ovos. Batizou a criação de “antítese”, por unir o poder estimulante da cafeína ao princípio calmante da lavanda mesclada ao creme.
Yara tirou expressos por três anos no Suplicy Cafés Especiais da Alameda Lorena, nos Jardins, uma das boas casas da cidade. Atualmente, ela tem a função de ensinar os novos baristas de lá. Sua paixão por esse universo, porém, não a impediu de procurar outros caminhos. Quando decidiu fazer faculdade de direito, o patrão Marco Suplicy avisou: “Sua vida é o café”. Trancou o curso na Universidade Mackenzie no 3º ano e abandonou um estágio em direito de família para se dedicar às viagens e competições. Sua rotina de treinamentos é puxada. Antes da disputa nacional, foram quatro semanas de preparação. A próxima etapa, em abril, será o World Barista Championship, em Atlanta, nos Estados Unidos. Em sua primeira viagem sozinha ao exterior, Yara vai concorrer com representantes de cerca de cinquenta países. Entre as precauções está o transporte dos grãos escolhidos. O café do sul de Minas Gerais será exportado verde e torrado lá mesmo. “A pressão do avião pode alterar o sabor do fruto”, diz ela. Para quem não precisa se preocupar com cuidados tão específicos, a nova embaixadora brasileira do café dá algumas dicas: “Em casa, o ideal é usar água mineral quente, sem deixar ferver”. O diferencial fica por conta da qualidade do pó usado. “Antes de ser barista, tomava café ruim, igual a todo mundo”, conta. “Hoje, gosto dos gourmets.”