Inaugurado em 1998, o Via Funchal, na Vila Olímpia, tornou-se em pouco tempo um dos principais espaços para grandes shows na cidade. No início do ano passado, um júri de especialistas ouvidos por VEJA SÃO PAULO o elegeu o melhor da capital. Até hoje, cerca de 1.300 espetáculos foram realizados lá, reunindo um público total estimado em mais de 3 milhões de pessoas. Muitas das apresentações foram memoráveis, como a de Bob Dylan, em 2008, e a do lendário blueseiro texano Johnny Winter, em 2010. Aos 66 anos e bastante debilitado devido a um longo histórico de abuso de drogas como heroína, o guitarrista cantou e tocou sentado numa cadeira, emocionando os velhos fãs que o escutavam ao vivo pela primeira vez por aqui.
+ Via Funchal: a melhor casa de shows da cidade
+ Citibank Hall encerra suas atividades
+ Os shows que agitam a cidade
Essa história cheia de belos momentos, no entanto, está com os dias contados. No último dia 15, os proprietários da casa acertaram sua venda por 108 milhões de reais a um consórcio formado pela construtora Toledo Ferrari e pelas incorporadoras Helbor e AAM. “Faremos um financiamento para honrar o pagamento”, conta Armando Nicolau, proprietário da AAM. Os compradores irão pôr tudo abaixo para aproveitar o terreno de 6.000 metros quadrados. “No lugar, vamos construir um teatro e duas torres, uma comercial e outra residencial”, completa Nicolau. O novo empreendimento deve ficar pronto até 2017.
Proprietários do Via Funchal, os irmãos Jorge e Cássio Maluf estavam enfrentando havia tempo a pressão do mercado imobiliário. Para ganhar fôlego financeiro, chegaram a procurar um patrocinador disposto a injetar dinheiro no local, recebendo em troca o direito de rebatizá-lo com a sua marca. A Multiplus Fidelidade, empresa de programas de benefícios, entabulou algumas conversas sobre o assunto, mas a ideia não avançou. Diante disso, os Maluf passaram a examinar as ofertas para a venda do terreno.
Há nove meses, vinham negociando com a Toledo Ferrari, a Helbor e a AAM. Somente nas últimas semanas, porém, se chegou ao acordo sobre o valor. Procurados por VEJA SÃO PAULO, os donos do Via Funchal não quiseram falar a respeito do assunto. No momento, a principal preocupação dos administradores é deixar claro que irão manter sua agenda de shows previstos até janeiro de 2013. Nos próximos meses, a casa, com capacidade para 6.000 pessoas, deve receber atrações como o grupo de rock pesado Megadeth, em 5 de setembro, e o bluesman B.B. King, em 5 e 6 de outubro. A demolição terá início em fevereiro de 2013.
Trata-se da terceira importante casa de shows que fecha as portas nos últimos seis anos. Em 2006, o tradicional Olympia, na Lapa, transformou-se em uma igreja evangélica. Mais recentemente, em março passado, foi a vez de o Citibank Hall, em Moema, encerrar as atividades. Com isso, São Paulo já começa a sofrer com a escassez de bons espaços do gênero. Uma das principais promotoras de eventos, a Time For Fun encontrou em suas duas casas, o Credicard Hall e o Teatro Abril, a solução para suprir a ausência do Citibank Hall.
A XYZ Live, por sua vez, não tem a mesma facilidade, pois não é dona de um teatro próprio. Em abril, recorreu ao Via Funchal para abrigar duas apresentações do cantor Michael Bublé. Atualmente, para escapar dos lugares dominados pela concorrente direta, lhe resta apenas o HSBC Brasil, na Chácara Santo Antônio, com o qual mantém um contrato. “Nós já temos um número considerável de datas fechadas”, diz Elvis Patez, programador artístico do grupo Tom Brasil, dono do HSBC Brasil. “Agora, a agenda deve ficar ainda mais apertada.”
BALANÇO FINALBreve resumo da história do Via Funchal
Inauguração: 1998
Área do terreno: 6.000 metros quadrados
Palco: 500 metros quadrados
Capacidade: 3.075 pessoas sentadas e 6.000 em pé
Público reunido até hoje: mais de 3 milhões de espectadores
Shows realizados: cerca de 1.300
Artistas que passaram por ali: Norah Jones, Bob Dylan, New Order e Coldplay, entre outros
Apresentações confirmadas para 2012: Megadeth (5/9), Epica (28/9) e B.B. King (5 e 6/10)
ESPAÇOS REDUZIDOSEm seis anos, São Paulo perdeu três grandes teatros para shows
Citibank Hall: localizada em Moema, a casa, que também funcionou como Palace e DirectTV Music Hall, encerrou as atividades em março deste ano
HSBC Brasil: inicialmente batizado de Tom Brasil, tem recebido apresentações de alto nível, como as de Chico Buarque, Gal Costa e Marisa Monte
Olympia: tradicional local de espetáculos da Lapa, deixou de funcionar em 2006, quando se transformou em uma igreja evangélica
Credicard Hall: após o fim do Citibank Hall, a casa serve de opção (com o Teatro Abril) para a promotora Time For Fun realizar eventos