Estima-se que a venda de produtos ligados ao surfe, como bermudas, camisetas e pranchas, tenha movimentado mais de 2,5 bilhões de reais no Brasil em 2007. É um negócio que cresce 10% ao ano. Para aproveitar essa maré alta, a professora Flávia da Cunha Bastos, da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (USP), e o empresário Alexandre Zeni, presidente do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento do Surf (Ibrasurf) e dono de uma escola de surfe em Riviera de São Lourenço, criaram o curso Surf – Administração, Marketing e Gestão de Negócios. Desde março, 110 alunos, que pagaram 450 reais cada um, freqüentam suas aulas, todas as terças, na USP. “Entre os estudantes, a maior parte já entrou no mercado, numa prova de que os profissionais estão em busca de capacitação”, diz Zeni.
Apesar de não ter mar, a cidade de São Paulo é a capital nacional do surfe. Mais de 30% do comércio está concentrado aqui. Na capital moram também os principais empresários da área, modelos de sucesso para os estudantes. Caso do economista Alfio Lagnado, palestrante do curso. Ele fatura mais de 100 milhões de reais por ano com os direitos de três licenças no país, como a da australiana Quiksilver, e com a SurfCo., detentora das marcas Hang Loose, Reef, Volcom e Rusty. Surfista, Lagnado começou vendendo chaveiros à empresa de um amigo, em 1980. Dois anos depois, montou a Hang Loose. “A princípio, só queria dinheiro para viajar e pegar onda”, lembra. Ele mantém a tradição de surfar todo fim de semana no Litoral Norte e viaja para o exterior ao menos uma vez por ano. Suas praias prediletas ficam na Indonésia.
Como Lagnado, grande parte desses empresários é surfista. Mauricio Fagundes, dono da marca South to South, e Dimitrius Nassyrios, conhecido como Tucano, proprietário da franquia de lojas Star Point, fazem parte da turma. “É bem mais fácil entender o consumidor se você é um deles”, afirma Fagundes. “Há até uma rixa entre aqueles que têm ‘água salgada no sangue’ e os que estão no negócio só pela grana.” Tucano, por exemplo, tomou posição nessa briga. “Em minhas lojas, só deixo entrar produtos feitos por empreendedores comprometidos com o esporte”, diz. “Normalmente, não é o caso de administradores que nem sabem surfar.”
Mas não é preciso subir em uma prancha para se dar bem. O libanês Naim El Eter, radicado em São Paulo, nunca foi adepto da modalidade. Com dois irmãos, abriu a Nicoboco, há dezenove anos, como uma marca de camisetas. “Especializei-me em surfe para aproveitar o potencial do mercado”, conta. “Todo brasileiro tem uma bermuda ou um biquíni no armário.” No ano passado, vendeu 1 milhão de peças no Brasil e exportou outras 20.000. Mas, por não ser surfista, Eter teve problemas no início da empreitada. “Foi difícil entender o cliente e me inserir numa área dominada por profissionais-surfistas.” Para os que querem entrar no ramo, vai a dica, consenso entre os empresários: se gosta de pegar onda, aprenda a gerir um negócio; se sabe apenas administrar, contrate uma equipe jovem que entenda a cabeça do consumidor.