Muitas vezes esquecida pelos encenadores, a magia do teatro só se estabelece quando o público acredita ter diante dos olhos uma realidade — e não a tentativa de recriar uma história. Desde a estreia no Rio de Janeiro, há sete meses, “Tim Maia — Vale Tudo, o Musical” foi visto por 100.000 pessoas, a maioria entusiasmada com o resultado. A chegada ao Teatro Procópio Ferreira, portanto, vem cercada de uma expectativa que poderia acabar em decepção. Mas esse risco não atinge o espetáculo escrito por Nelson Motta. O responsável é o paulistano Tiago Abravanel, de 24 anos e neto de Silvio Santos, um ator de luz própria e esforço visível no palco.
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O desempenho de Abravanel na pele do cantor e compositor Sebastião Rodrigues Maia (1942-1998) leva os espectadores a ter certeza de que ele é o artista, tamanha a fidelidade da caracterização. À frente de onze atores e sete instrumentistas, o ator recria o personagem dos 12 aos 55 anos, soltando o vozeirão potente em 25 canções. Estruturada como um flashback durante o último show de Tim, realizado em Niterói (RJ) — no qual ele passou mal e, uma semana depois, veio a falecer —, a peça traz uma estrutura linear. A infância, o encontro com Roberto Carlos (o convincente Reiner Tenente) e Elis Regina (papel de Izabela Bicalho), a dependência das drogas e o estouro nos anos 70 costuram temas como “Azul da Cor do Mar”, “Sossego”, “Chocolate” e “Me Dê Motivo”.
Sem ousadias estéticas, a direção de João Fonseca tira proveito do elenco e da empatia do biografado. “Tim Maia — Vale Tudo, o Musical” mostra-se uma montagem convencional, e isso se revela uma qualidade. Conta bem uma história, diverte, emociona e não se envergonha de estar ancorada na escolha acertada do protagonista. Afinal, seria difícil acreditar no sucesso da produção sem Tiago Abravanel.
AVALIAÇÃO ✪✪✪✪