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OLÁ,

Thomie Othake: artista

Após cirurgia na coluna, Thomie volta a trabalhar aos 94 anos e desenvolve grandes esculturas públicas que vão deixar ainda mais forte a sua marca na face da cidade

Por Thales Guaracy
Atualizado em 5 dez 2016, 19h26 - Publicado em 18 set 2009, 20h32

Aos 94 anos recém-completados, Tomie Ohtake está começando de novo. Depois de visitar vários médicos, até achar um que aceitou fazer em sua coluna uma arriscada cirurgia que rendeu três infecções hospitalares, mas lhe permitiu caminhar novamente sem embaraços, ela voltou ao que interessa. “O importante é o trabalho”, diz a artista, muito baixo, comendo os conectivos, como fazem os orientais. Tomie trabalha no salão iluminado por uma grande clarabóia de sua casa, feita de concreto armado pelo filho arquiteto Ruy Ohtake e dotada de um jardim com a proverbial paz japonesa ao redor da piscina. É uma combinação muito expressiva do seu perfil artístico, que mistura a contemporaneidade com algo da mais antiga tradição oriental. Encostada nas paredes, repousa uma dezena de quadros que ela acaba de pintar. Sobre as mesas estão maquetes dos seus novos projetos, do mesmo tipo que vem mudando a paisagem de São Paulo, como a escultura de ondas de concreto na Avenida 23 de Maio, o painel de pastilhas na estação Consolação do metrô, a tapeçaria no auditório do Memorial da América Latina e o alto-relevo incorporado ao hall de entrada do Auditório do Ibirapuera.

Sob encomenda, Tomie trabalha agora em três monumentos públicos. Há um painel de três andares para o edifício da empresa de abastecimento de água de Guarulhos. Um círculo metálico vermelho com 6 metros de altura, que lembra um anel em chamas, para a entrada no Aeroporto de Cumbica. E uma onda de 16 metros de altura, a ser instalada sobre o final do emissário submarino na Praia do José Menino, entre Santos e São Vicente. Estes dois últimos são uma iniciativa das prefeituras e da comunidade nissei para celebrar os 100 anos da imigração japonesa no Brasil, em 2008. “Ficarão justamente nos lugares por onde as pessoas entraram”, explica.

É um tema que fala ao seu coração. Nascida em Kioto, no Japão, em 1913, a artista veio para São Paulo aos 23 anos e naturalizou-se brasileira em 1968. Com nove participações em bienais de São Paulo, Tomie diz fazer uma obra silenciosa. “Nunca me preocupei com o que os outros pensam”, afirma. “Só penso na criação, no trabalho.” Mesmo sem procurar ninguém, To-mie é hoje a embaixadora informal das artes na cidade. Pela sua casa passam diariamente críticos, artistas e amigos. Neste ano, recebeu até Yoko Ono, encantada com suas obras, que viu no Ibirapuera e no Instituto Tomie Ohtake, inaugurado em 2001. “Eu imaginava que ela fosse uma pessoa orgulhosa, mas foi muito simpática e carinhosa comigo”, confessa. “Fiquei espantada.”

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