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Teleton enfrenta crise com o fim do protagonismo da TV e do telefone fixo

Neste ano, organizadores apostam no PIX para reverter a queda dos pequenos doadores, além de plataformas como YouTube e Twitch

Por Pedro Carvalho
Atualizado em 27 Maio 2024, 21h23 - Publicado em 28 out 2022, 06h00
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  • O clima no palco do SBT, no dia 5 de novembro de 2016, era de alegria e dever cumprido. Após uma maratona de 28 horas no ar, com apresentações de megaestrelas como a cantora Anitta, o Teleton atingia um recorde de doações de “pessoas físicas”: 15,3 milhões de reais arrecadados por meio de telefonemas de telespectadores, a serem repassados, como sempre, à AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente). Os tempos mudaram. Na edição passada, em 2021, esse tipo de contribuição chegou apenas a 5,3 milhões. Ou seja, em cinco anos, caiu para um terço daquele recorde.

    “Se compararmos 2021 com 2018, a queda é de 60%”, diz Valdesir Galvan, CEO da AACD. Parte da explicação desse fenômeno está nos suspeitos usuais: estagnação econômica, inflação, pandemia… Mas duas mudanças tecnológicas, retratos inequívocos dos tempos modernos, também pesaram. A primeira foi o fim do protagonismo da TV aberta.

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    Criado nos Estados Unidos, o Teleton fez sucesso nos anos 1970 com o comediante Jerry Lewis à frente da atração, que misturava música, histórias de superação e doações para causas nobres. Em 1982, a AACD comprou a licença do programa para realizá-lo no Brasil. A ideia só saiu do papel em 1998, graças a uma amizade entre Rosinha Goldfarb, da família fundadora das Lojas Marisa e mãe do então presidente da AACD, Décio Goldfarb, e a apresentadora Hebe Camargo, que levou a proposta a Silvio Santos.

    Luciana Gimeneze Adriane Galisteu no Teleton de 2009.
    Luciana Gimenez
    e Adriane Galisteu no Teleton de 2009. (Roberto Nemanis/SBT/Divulgação)
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    O recorde de audiência aconteceu em 2001, com 33 pontos de média no Ibope.  Embora não revelem os números atuais, os responsáveis pela AACD reconhecem que a arrecadação sofreu após o reinado da TV ser invadido por concorrentes como o YouTube e os streamings.

    Outro equipamento que saiu de moda é o telefone fixo, por meio do qual os telespectadores doavam ao programa. Nos celulares, as doações só podem ser feitas por quem tem planos pós-pagos — os pré-pagos ou “controle” não aceitam ligações para o 0500 do Teleton. “É algo importante, porque a população que mais doa é a carente, que sabe da dor do problema (da falta de assistência na saúde)”, diz Edson Brito, superintendente de marketing e relações institucionais da AACD. Além disso, a Anatel impõe um limite de 60 reais por mês para doações nos celulares em geral.

    Hebe e Celso Portiolli no Teleton 2010.
    Hebe e Celso Portiolli no Teleton 2010. (Sergio Jeronymo/SBT/Divulgação)
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    Se a tecnologia trouxe desafios à atração, ela também apresentou possíveis soluções. Uma das principais apostas para reverter a queda dos pequenos doadores é o PIX. No ano passado, dos 5,3 milhões de reais doados por pessoas físicas, 3 milhões vieram do serviço. “É a opção que mais iremos divulgar neste ano”, diz Norma Mantovanini, diretora do Teleton (são duas chaves: doeteleton@ aacd.org.br ou 11 94311-0144). Ao mesmo tempo, o programa abraçou plataformas como o YouTube e a Twitch (o serviço da Amazon para streamers) nas transmissões.

    Hebe Camargo com Gilberto Gil em 2001.
    Hebe Camargo com Gilberto Gil em 2001. (Moacyr dos Santos/SBT/Divulgação)

    Nas últimas décadas, a AACD sofreu aperto nas contas por culpa de uma equação difícil de solucionar. A instituição (que não tem donos ou fins lucrativos) faz 800 000 atendimentos por ano, dos quais 80% via SUS. Mas a tabela de valores que o sistema público paga por esses serviços não é reajustada desde 2007. Dessa forma, os repasses cobrem apenas 20% dos custos da associação. “Uma sessão de fisioterapia, que para nós custa 98 reais, tem 12 a 15 reais de repasse do SUS”, diz Galvan, da AACD.

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    Datena no Teleton 2002
    Datena no Teleton 2002 (Joao Batista da Silva/SBT/Divulgação)

    A instituição, que chegou a ter quinze unidades pelo país (a principal no Ibirapuera), hoje tem oito. As contas da AACD só estão em dia graças às doações. No ano passado, somadas pessoas físicas e grandes doadores, o Teleton levantou 30 milhões para a causa. “Ficou no ar quarenta minutos a mais que o planejado para bater a meta”, diz Norma. É a mesma meta que os apresentadores tentarão atingir na 25ª edição do programa, nos dias 4 e 5 de novembro. Que o PIX os ajude.

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    Publicado em VEJA São Paulo de 2 de novembro de 2022, edição nº 2813

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