Integrantes que faziam parte do grupo de trabalho da Fundação Theatro Municipal formado para analisar as contabilidades do Instituto Odeon, à frente do complexo do Teatro Municipal, foram demitidos na terça-feira (27). As demissões vêm junto com o resultado do trabalho que reprova as contas da organização de 2018, pedindo a devolução de 3 milhões de reais, e aprova com ressalvas as contas de 2017. Segundo a prefeitura, questionada por e-mail, foi escalada uma equipe “mais experiente e mais preparada para lidar com esse cenário de mudanças que se anunciou com a reprovação das contas do Theatro Municipal.”
Em uma reunião feita no início de agosto, cuja reportagem de VEJA SÃO PAULO teve acesso à gravação, os integrantes dessa comissão apresentavam as análises para a secretária-adjunta, Regina Silvia Pacheco. No encontro, os funcionários explicavam a reprovação das contas. Os apontamentos incluíam questionamentos com gastos em passagens aéreas, hospedagens, cartões e débitos em contas feitas de formas desorganizadas, com falta de esclarecimentos entre quais valores que teriam sido gastos no Museu de Arte do Rio (também administrado pelo Odeon) e no Teatro. A força tarefa indicava a saída da organização do comando do complexo. Na ocasião, a secretária-adjunta Regina questiona literalmente o que deveria ser feito para que o parecer fosse alterado. Sobre esta parte da gravação, a prefeitura não respondeu aos questionamentos da reportagem.
Em postagem no Instagram nesta quarta (28), o secretário de cultura Alê Youssef defendeu a mudança feita a pedido do prefeito Bruno Covas: “Sobre a nova polêmica relacionada ao Theatro Municipal, gostaria de enfatizar que foi a gestão do Prefeito que criou o Grupo de Trabalho para análise de prestação de contas, pediu o acompanhamento da Controladoria Geral do Município, e deu TOTAL LIBERDADE para o grupo de trabalho atuar. A maior prova disso é justamente que as contas foram reprovadas e nos já descontamos os valores questionados pelo Grupo Trabalho dos repasses à Odeon. Estamos apenas aguardando o prazo de recurso legal para encaminhar ou não a mudança da Organização Social que comanda o Theatro Municipal. E ISSO NÃO TEM VOLTA! As demissões da direção da Fundação do Theatro Municipal não tem nada a ver com mudanças nestas decisões“, escreveu.
Na manhã da última terça-feira (27), o diretor geral da Fundação Theatro Municipal, Ricardo Fernandes Lopes, e o diretor de gestão, Homero Souza de Freitas Alexandre, foram exonerados, junto com mais dois funcionários. No lugar dos demitidos, entrou Maria Emília Nascimento Santos, como diretora geral da Fundação. De acordo com as respostas da prefeitura, o grupo inicial já cumpriu as funções as quais foram designados e agora aguarda o retorno do Instituto Odeon, que tem até o dia 28 de setembro para apresentar respostas e esclarecimentos.
O Instituto Odeon reitera, por e-mail, que tem toda a documentação que comprova a legalidade dos gastos. Confira abaixo o posicionamento:
O processo ainda está em fase de apuração. O Instituto Odeon tem toda a documentação que comprova a lisura de todos os gastos e ações que tomou à frente da gestão do Theatro Municipal, seguindo os mais rígidos padrões éticos, morais e a legislação vigente. Não há nenhuma confusão entre as contas do Museu de Arte do Rio e do Theatro Municipal, e todas as hospedagens e passagens aéreas foram devidamente justificadas com documentos. A confusão que existe é no trabalho de apuração realizado pela comissão. As apurações referem-se às contas dos anos 2017 e 2018. Como foi demonstrado com documentos para a reportagem de Veja São Paulo em fevereiro deste ano, todos os apontamentos foram esclarecidos. A FTM não demonstra de forma objetiva e embasada quais são os supostos dados divergentes ou irregulares. Os apontamentos em que existe divergência por parte da FTM em seu relatório de análise sequer possuem memória de cálculo de onde e como se obtiveram os números. O Odeon apresentou explicações objetivas e documentadas. Na nossa avaliação, os apontamentos não deveriam ter sido mantidos. Seria importante pedir explicação, baseada em fatos e documentos, para quem manteve esses apontamentos.
O grupo de trabalho foi formado em fevereiro dentro da Fundação Theatro Municipal, a fim de reanalisar as contas do Instituto Odeon dentro do Teatro Municipal e seu complexo, depois da saída do secretário de cultura André Sturm, quando este elaborou um primeiro relatório apontando irregularidades na administração do instituto à frente do teatro e pedindo a rescisão do contrato. Ao assumir a pasta, Alê Youssef suspendeu o trabalho de Sturm e o grupo de trabalho foi montado.