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O que pensam os taxistas paulistanos

Veja opiniões sobre a profissão, os passageiros e a cidade

Por Giuliana Bergamo [Colaborou Carolina Devidé]
Atualizado em 1 jun 2017, 18h42 - Publicado em 27 ago 2010, 22h47
Táxi - Carlos Eduardo Martins_2180
Táxi - Carlos Eduardo Martins_2180 (Fernando Moraes/)
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De cada dez taxistas paulistanos, seis trabalham doze horas ou mais por dia, cinco já foram assaltados e três se envolveram em acidentes com motoboys. Seus maiores medos são atropelar um pedestre, ser assaltado por um passageiro e ter de transportar bandidos durante ações criminosas. Não é uma vida fácil. Ainda assim, 95% — eis uma grande surpresa — se dizem felizes com o seu ganha-pão. Afinal, a atividade tem lá suas vantagens. Embora não seja possível enriquecer dirigindo um carro de praça, o rendimento mensal é apontado por quase 20% dos motoristas como a melhor coisa da profissão — atrás apenas do horário flexível e do fato de não ter chefe.

“Dobrei minha renda desde que abandonei o emprego de técnico em radiologia”, afirma Carlos Eduardo Martins, que não revela seus ganhos, mas atua em uma das áreas mais cobiçadas da capital, o Shopping Iguatemi.

Essas são algumas das revelações de uma pesquisa realizada por VEJA SÃO PAULO com motoristas de praça paulistanos. Por duas semanas, distribuímos 1 300 questionários em três empresas de radiotáxi, trinta frotas e 35 pontos das cinco regiões da cidade. Cada um deles continha 52 questões sobre o que os taxistas pensam da sua ocupação, dos passageiros e da metrópole onde vivem (veja as respostas nos quadros ao longo desta reportagem). Havia também espaço para comentários e relatos de histórias vividas durante as corridas. Sob a condição de anonimato, 550 motoristas responderam às perguntas.

Lideranças de alguns pontos, sobretudo os mais rentáveis, ofereceram alguma resistência em participar do levantamento. Isso porque não gostariam de responder às seguintes questões: “Qual o seu rendimento mensal (descontados os gastos com o carro)?”, “O seu alvará foi adquirido por sorteio, comprado ou transferido legalmente?” e “Se seu alvará foi comprado, quanto custou?”. Como justificativa, disseram que os resultados poderiam atrapalhar a relação deles com a prefeitura. “A tarifa não é reajustada há quatro anos”, reclama Milton Matsubara, coordenador do maior ponto da cidade, o do Aeroporto de Congonhas, referindo- se à atual tarifa de 3,50 reais e 2,10 reais o quilômetro rodado. “Dados sobre quanto ganhamos podem dificultar futuras negociações.” Só dezesseis dos 456 profissionais que trabalham com ele participaram do levantamento.

Falar em dinheiro é algo delicado porque existe um mercado paralelo envolvendo a categoria na cidade. Para que cada um dos 32 619 táxis circule é preciso que tenha um alvará ativo. A licença deve ser renovada anualmente. Depois de três anos inativa, ela caduca e não é reposta. A emissão de novos documentos do tipo está suspensa desde 1996 porque, segundo o Departamento de Transportes Públicos (DTP), um órgão municipal, a frota disponível é suficiente para a demanda dos paulistanos. Quem quiser entrar na profissão terá, basicamente, três possibilidades: alugar o carro de uma frota por uma diária de cerca de 95 reais; dividi-lo com o proprietário, trabalhando em horários alternativos; ou utilizar o de alguém que se aposentou.

Táxi - Dionisio Neto_2180
Táxi – Dionisio Neto_2180 ()
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Existem ainda outras duas saídas, ilícitas: alugar um veículo por uma diária semelhante à cobrada pelas frotas — há quem seja proprietário de vários carros com essa finalidade — ou comprar um alvará, o que pode custar até 350 000 reais no Aeroporto de Congonhas, o ponto mais desejado da capital. “É difícil flagrar uma negociação dessas”, diz o tenente-coronel da reserva da Polícia Militar Walter de Paiva, diretor do DTP. “Mas, quando isso ocorre, cassamos o alvará.”

Tal realidade divide os motoristas em diferentes classes. Há, por exemplo, uma espécie de elite da categoria. Dela fazem parte profissionais que possuem sua própria licença e atuam em pontos de alta rotatividade ou em radiotáxis. É o caso de Carlos Eduardo Martins, do Iguatemi, onde não falta trabalho. Mesmo no domingo, considerado o dia de movimento mais fraco, a fila de nove carros brancos na porta do shopping se renova a cada dois minutos. “São Paulo é uma cidade de eventos e, não importa em que lugar ocorram, eles trazem passageiros para nós”, afirma o motorista, que se divide entre o volante e as aulas do curso de direito. “O shopping é uma atração turística da cidade.”

Táxi - Moacir Cardoso_2180
Táxi – Moacir Cardoso_2180 ()

Quem é dali não gosta de dizer, mas fatura cerca de 9 000 reais mensais, descontados os gastos com o veículo. Num outro grupo, estão aqueles que não ganham mais de 2 000 reais mensais, precisam alugar um veículo para trabalhar, não estão atrelados a nenhum ponto fixo ou rodam por regiões com pouco movimento, em geral longe de áreas comerciais. Dionísio Augusto Felix Neto é um deles. Na profissão há cinco anos, ele paga 97 reais pela diária do automóvel de uma frota. Roda de segunda a segunda, no mínimo doze horas por dia. “Algumas vezes, o que tiro em um dia dá só para pagar o aluguel”, conta.

Tomar táxi em São Paulo é caro. Uma corrida de 10 quilômetros aqui sai por 24,50 reais. Em Brasília, cobram- se pelo mesmo percurso 21,30 reais, e, no Rio de Janeiro, 18,30 reais. “A diferença está na qualidade do serviço”, defende-se Natalício Bezerra, presidente do Sindicato dos Taxistas Autônomos. “Nossos carros são novos e alguns motoristas falam outras línguas. Tudo isso tem um custo.” Para chegarem à tarifa atual, o DTP e representantes da categoria lançaram mão de uma fórmula complicada, que levou em conta o investimento feito na compra do veículo e sua desvalorização e manutenção, além de gastos com combustível, seguro obrigatório e serviços de despachante.

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Em qualquer tipo de táxi comum, a tabela é a mesma. Ao comprar um veículo novo, no entanto, o dono de uma frota não desfruta, como os autônomos, de isenção do imposto sobre produtos industrializados (IPI), do imposto sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS) e do imposto sobre serviços (ISS), que somam cerca de 25% de seu valor total. “Por isso, nossos automóveis são, na maioria, 1.0, enquanto outros taxistas compram modelos 1.6 por valores semelhantes”, afirma Ricardo Auriemma, presidente da Associação das Empresas de Táxi de Frota do Município de São Paulo (Adetax). “Se tivéssemos os mesmos benefícios, certamente investiríamos em carros melhores.”

Táxi - Lorenzo Del Amo_2180
Táxi – Lorenzo Del Amo_2180 ()

Os taxistas queixam-se de estar expostos à insegurança da cidade. Alguns, inclusive, relataram ter sido obrigados a levar bandidos. “Certa vez transportei um rapaz logo depois de ele ter roubado um banco”, escreveu um dos respondentes. “Fui obrigado a dar fuga a dois homens depois de eles matarem uma pessoa”, registrou outro. Por medo, motoristas deixam de pegar passageiros na rua ou de circular por áreas tidas como mais perigosas. Com cinco anos de profissão, Moacir Cardoso, que atua na frente do Raposo Shopping, foi assaltado duas vezes durante as corridas. Por esse motivo, raramente atende a chamados de transeuntes e só fica em seu ponto no período da manhã. “É o momento mais seguro do dia. Depois, transito nas redondezas do Instituto Tomie Ohtake na Zona Oeste, onde tenho clientes conhecidos, a maioria deles advogados”, conta.

Espanhol que emigrou para o Brasil há quase seis décadas, Lorenzo Ramos Del Amo tem 75 anos, dos quais 53 dedicados a seu táxi. Ele começou doze anos antes de a atividade ser regulamentada na capital, o que só ocorreu em 1969. Na época, circulava por roteiros preestabelecidos levando grupos de passageiros, numa espécie de lotação. “Era melhor porque eu não conhecia direito São Paulo”, diz. Em seguida, conseguiu uma vaga no Aeroporto de Congonhas, já um dos pontos mais concorridos, e, na década de 1970, ajudou a criar as categorias especial e luxo, que praticam tarifas mais caras. Na ativa, trabalha de sábado a sábado, entre dez e doze horas por dia, num Toyota Corolla com banco de couro recém-comprado. “Se não for assim, não ganho o suficiente para o sustento da minha família”, afirma. Foi assaltado duas vezes por passageiros. Em uma ocasião, com muita lábia, escapou de ser trancado no porta-malas. “Mesmo assim, adoro meu serviço. Só paro quando perceber que minha idade está pondo a mim e a meus passageiros em risco.”

O perfil dos 550 taxistas que responderam à pesquisa

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