Quem já pesquisou na internet sobre edifícios históricos da metrópole muito provavelmente foi direcionadoa os domínios do site São Paulo Antiga. Em quatro anos de existência, o endereço se tornou uma das principais referências sobre as transformações ocorridas em nossa paisagem ao longo do tempo. Reúne um acervo de aproximadamente 7 000 imagens. A mais antiga delas, de 1911, mostra um acidente com o carro do conde Francisco Matarazzo em uma estrada que ligava o interior à capital. Há também flagrantes de importantes imóveis que se encontram hoje em estado de abandono (como o Palacete Nacim Schoueri, reduto, na região da 25 de Março, construído por libaneses na década de 30), biografias de personagens e informações sobre objetos do passado, como a chave da cidade, antiga honraria equivalente ao título de cidadão paulistano.
+ Arquitetura e decoração no blog Morar em SP
As atualizações quase diárias garantem ao site um fluxo de 1 300 visitantes por dia. “Muitas vezes a foto é só o que sobra de de terminado monumento ou imóvel”, diz Rafaela Bernardes, arquiteta especialista em restauro e leitora habitual da página. “Registros como os do São Paulo Antiga são fundamentais como ponto de partida de projetos de restauro e preservação da memória.”
Algumas das notícias publicadas pelo endereço tiveram repercussão importante, como no caso do monumento Homenagem ao Povo Armênio, do escultor José Jerez Recalde, na Praça Armênia, no Bom Retiro. Inaugurada em 1966, a obra foi criada em memória ao massacre de armênios feito por turcos no início do século passado. Com o passar do tempo, ladrões levaram de lá as esculturas (incluindo a principal, de uma mulher), a frase e a placa de bronze em alto-relevo aplicadas sobre o granito. A situação de penúria ganhou destaque no São Paulo Antiga em um post de 2009. Logo em seguida, o Banco Induscred de Investimento S/A resolveu financiar um projeto de restauração de 1 milhão de reais. O monumento acabou sendo reinaugurado em 2010.
+ Galeria de postais de Douglas Nascimento
O responsável pela criação da página é o fotógrafo Douglas Nascimento. Ele montou o serviço inspirado no trabalho de fotógrafos urbanos como Aurélio Becherini (1879-1939) e Militão Augusto de Azevedo (1837-1905), além de sites estrangeiros que registram construções esquecidas pelo tempo nas grandes metrópoles. Nascimento arca com as despesas de produção do conteúdo e da manutenção técnica. “Pensei em encerrar a atividade algumas vezes”, confessa.
Para tentar atrair uma receita que o ajude na empreitada digital, ele resolveu investir no papel e no impresso: pretende publicar um livro com parte do conteúdo do endereço. A edição, prevista para agosto, será dividida em duas partes, uma sobre imóveis antigos e a outra com painéis de azulejos pintados a mão, moda na cidade nos anos 30. Mesmo se não houver patrocinadores interessados, o autor bancará o lançamento por conta própria. “Quero valorizar a história da cidade”, afirma.
Os posts de maior audiência
■ A história do Castelinho da Rua Apa, em Santa Cecília, palco de um crime nos anos 30, é a campeã de audiência do site, com 500 acessos diários
■ O Hospital e Maternidade Cristo Rei soma a maior quantidade de comentários, 180 — vindos principalmentede pessoas em busca de registros de nascimento perdidos
■ As referências à extinta fábrica de chocolates Sönksen são as que despertam maior saudosismo dos leitores, que relembram o sabor inigualável do doce
■ O 2º Batalhão de Guardas, no Parque Dom Pedro II, é dono do maior furo de reportagem:f otos interna sinéditas feitas por um ex-soldado