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“O futebol é muito machista” diz Emerson Sheik sobre selinho

A polêmica provocada pela divulgação da imagem do atacante corintiano dando bitoca em um amigo

Por João Batista Jr.
Atualizado em 1 jun 2017, 17h35 - Publicado em 23 ago 2013, 18h05
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  • Na última quarta (21), o Corinthians sofreu uma derrota vergonhosa de 0 a 1 na Copa do Brasil para o até então desconhecido Luverdense, time de Mato Grosso da terceira divisão do futebol nacional. Normalmente, um vexame desse naipe costuma mexer com os humores da torcida a ponto de fazer tremer as estruturas da sede do clube, no Parque São Jorge.

    No jogo, um dos craques alvinegros, Emerson Sheik, que estavano banco de reservas, entrou em campo no segundo tempo e acabou expulso depois de 32 minutos. Apesar disso, o episódio que mais irritou uma parcela da Fiel foi uma atitude do atacante fora dos campos.

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    Na noite de domingo (18), ele surpreendeu a todos ao postar uma foto sua no Instagram em que aparece dando um selinho na boca de um amigo, o dono de restaurante Isaac Azar. “Tem de ser muito valente para celebrar a amizade sem medo do que os preconceituosos vão dizer”, escreveu o jogador na legenda da imagem. Em minutos, ele passou a ser xingado por corintianos.

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    Também virou alvo de chacota de aficionados de outras equipes. No treino do Timão realizado no dia seguinte ao da divulgação da foto, cinco integrantes de uma das torcidas organizadas do clube, a Camisa 12, apareceram com faixas que mostravam ignorância e preconceito. “Aqui é lugar de homem”, dizia uma delas.

    Outras facções ameaçam até apelar para a violência. “Vou invadir o campo durante as partidas até tirar esse jogador do clube”, esbravejou Fábio Neves Domingos, presidente da Pavilhão 9. Ele fez parte do grupo de doze torcedores presos na Bolívia, em fevereiro, sob suspeita de ter disparado o sinalizador que provocou a morte do garoto Kevin Espada, de 14 anos. “Não fiquei preso três meses e dezesseis dias naquele país para depois passar por essa humilhação”, continuou a vociferar Domingos.

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    Emerson caiu nas graças dos corintianos no ano passado depois de marcar dois gols na final da Copa Libertadores contra o Boca Juniors. O episódio recente do selinho ameaça transformar o herói em um ser indesejado para os grupelhos mais obtusos da torcida. “Não imaginava que essa foto teria tanta repercussão”, diz o jogador, que afirma ser heterossexual e faz a linha “boleiro mulherengo”. Acabou sendo elevado, por acaso, a símbolo da luta anti-homofobia e está gostando do papel. “O futebol é muito machista, precisamos mudar essa realidade”, entende.

    Sheik e Azar se conheceram na viagem do Corinthians ao Japão, em dezembro do ano passado, por ocasião da disputa do Mundial de Clubes. Desde então, os dois ficaram amigos. As famílias se frequentam em São Paulo, vão ao teatro juntas e saem para jantar. “O Emerson fez a foto para acabar com a homofobia no futebol”, conta Azar. “Ele é um cara do bem, ajuda os amigos e detesta qualquer tipo de preconceito.” O jogador, aliás, emprestou-lhe recentemente 375 000 reais para ajudá-lo a abrir, no começo deste mês, a filial de seu restaurante no Rio de Janeiro. Em troca, vai receber 1% de juros ao mês até a quitação do empréstimo.

    Emerson Sheik selinho
    Emerson Sheik selinho ()
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    Ex-ajudante de pedreiro de Nova Iguaçu (RJ), Márcio Passos de Albuquerque, nome de batismo de Emerson Sheik, é conhecido por suas declarações irreverentes e pela capacidade de se meter em rolos. Depois de ser condenado por falsidade ideológica (mudou a data de nascimentode 1978 para 1981), só há pouco se livrou de um processo em que era acusado de receptação de carros contrabandeados. Por morar em Alphaville, distante 35 quilômetros do centro de treinamento do Corinthians, pegou uma vez carona em um helicóptero para não chegar atrasado ao clube.

    Em casa, seu bicho de estimação é a macaca Cuta, com a qual já apareceu até no Corinthians. Sua já famosa foto do selinho provocou discussão por tocar em um tema que é tabu no futebol. “Em geral, trata-se de um ambiente extremamente homofóbico”, afirma o psiquiatra Flávio Gikovate, autor do livro Sexualidade sem Fronteiras e terapeuta dos atletas do Parque São Jorge entre 1980 e 1982. “Ninguém fala sobre isso, como se a situação não existisse.” Casos de esportistas que saíram do armário foram registrados no exterior, como o do jogador americano de futebol Robbie Rogers, do Los Angeles Galaxy.

    No Brasil, a cena ainda parece impensável. Em 2007, um diretor do Palmeiras, em entrevista a um programa de TV, insinuou que o volante Richarlyson, do São Paulo, era homossexual. O jogador, que hoje atua no Atlético-MG, processou o cartola. Diante de tudo isso, Gikovate acha que qualquer atitude é bem-vinda para quebrar esse estigma. E resume: “O Sheik foi corajoso nesse sentido”.

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