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São Paulo, meu amor

Quase sempre que vou à Arena Corinthians, em Itaquera, acabo trombando com o mesmo amigo de Pinheiros na saída do jogo. Não combinamos nada nunca, mas não chega a ser um mistério. Nós dois trabalhamos e moramos no mesmo bairro, compramos ingressos na mesma loja da RuaTeodoro Sampaio e torcemos pelo mesmo time. Imagino que, do ponto […]

Por Matthew Shirts
Atualizado em 5 dez 2016, 13h39 - Publicado em 2 jan 2015, 22h00
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  • Quase sempre que vou à Arena Corinthians, em Itaquera, acabo trombando com o mesmo amigo de Pinheiros na saída do jogo. Não combinamos nada nunca, mas não chega a ser um mistério. Nós dois trabalhamos e moramos no mesmo bairro, compramos ingressos na mesma loja da RuaTeodoro Sampaio e torcemos pelo mesmo time. Imagino que, do ponto de vista da probabilidade, esses encontros fortuitos fazem sentido. Como gosta de dizer outro conhecido meu, São Paulo é uma Kombi. Na última vez em que vi esse meu amigo no estádio do Timão, ele me apresentou dois jovens americanos que o acompanharam ao jogo.

    Ambos são de São Francisco, perto de onde vivi durante alguns dos meus anos nos Estados Unidos. Papo vai, papo vem, os rapazes mencionam o bairro de Noe Valley, onde minha prima, Paula, tem uma pequena livraria, a Folio Books. São fregueses, é claro, ou um deles, ao menos, curte o estabelecimento. O mundo é cada vez menor, pensei na hora. Se São Paulo é uma Kombi, o planeta globalizado não passa de um ônibus intermunicipal da Cometa. 

    + O que isso quer dizer?

    Lembrei-me desse ocorrido ao deparar com um vídeo no Facebook debaixo do título (em inglês) “São Paulo: a cidade mais subestimada do mundo”. Assisti a ele, de imediato, pelo telefone. Achei muito bom. Procura mostrar o que a nossa cidade tem de mais interessante do ponto de vista de gringos jovens e descolados. É o mesmo perfil de gente que conheci na saída do campo em Itaquera, desconfiei, num primeiro momento (e depois confirmei). Começam o vídeo pela Galeria do Rock, na Avenida São João, passam pelo Masp e pela Avenida Paulista, descem até a Liberdade e acabam bebendo, é claro, na Vila Madalena.

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    Destacam obras de grafite, tanto as menos formais como também uma exposição de os gemeos. Alimentam-se do movimento de uma metrópole de imigrantes. Abordam as comunidades de japoneses, italianos e libaneses, sem tempo de mencionar os outros grupos todos. Você pode assistir à produção aqui: https://wearebreakingborders.com. De acordo com o site, foi feita por Nick Neumann, Walker Dawson e Chris Moreno. No endereço, ainda há coisas do Rio de Janeiro, Bolívia, Peru e Paraguai. É bonito e benfeito. Segundo me contaram os americanos em Itaquera, a ideia deles é viajar durante anos pela América do Sul com o dinheiro ganho nos Estados Unidos dirigindo os táxis pós-modernos do aplicativo Uber.

    Começaram pela Copa de 2014. Queriam assistir ao Mundial no Brasil. Eles são a última versão, pensei, de exploradores como o americano Hiram Bingham, que revelou ao mundo a cidade perdida dos incas, Machu Picchu, em 1911. Mas, diferentemente dele, os jovens gringos de hoje não sabem o que procuram. Estão se divertindo com a busca, no entanto. A cidade de São Paulo se sai bem nessa abordagem graças à energia intensa, mas difusa, da nossa população. Vamos deixando nossa marca na organização e até mesmo nos muros da metrópole. Isso está claro para quem chega de fora. Ocorre -me, ao assistir ao vídeo no Facebook, que precisamos contar cada vez mais e melhor nossa própria história. Cultura, diria uma corrente da antropologia, nada mais é do que as histórias que contamos de nós mesmos. Feliz 2015!

    matthew@abril.com.br

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