Veja os bairros onde mais acontecem furtos e roubos de carros na capital
Em todo o ano de 2021, quase 48 000 pessoas tiveram seus veículos levados por criminosos
Um minuto. Esse foi o tempo que um criminoso levou para abrir o Renault Kwid do publicitário Matheus Gonçalez, de 27 anos, e sair com o veículo. “Foi muito rápido, um absurdo”, afirma o jovem.
Segundo os dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP), o publicitário é um dos treze paulistas que a cada hora têm o veículo levado pela ação de bandidos, seja por furto — quando a pessoa não está no veículo —, seja por roubo (quando há emprego de violência).
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Em todo o ano de 2021 foram registrados 112 709 boletins de ocorrência relativos a esses crimes em todo o estado (79 670 por furto e outros 33 039 por roubo). Sozinha, a capital paulista responde por mais de quatro em cada dez queixas desse tipo (42,6%). Foram 47 987 registros policiais por furto (34 331) ou roubo de veículos (13 656).
Os números de 2021 superam em 15,4% os de 2020: 97 615 (65 724 furtos e 31 891 roubos). Em comparação com antes da pandemia, o montante de 2021 fica 17,8% abaixo de 2019, que teve 137 169 boletins de ocorrência registrados (90 652 furtos e 46 517 roubos).
A análise feita pela reportagem em 91 distritos policiais da capital revela que o bairro líder de roubos de veículos é São Mateus, na Zona Leste, região onde 674 veículos foram levados com emprego de violência, muitas vezes com os criminosos usando armas para intimidar suas vítimas.
112 709 é o número de furtos (79 670) e roubos (33 039) registrados em todo o estado de São Paulo
Já o Tatuapé, também na Zona Leste, é a região onde mais os carros são furtados na cidade de São Paulo, em uma média de sete a cada dois dias (1 297 em 2021). É possível inferir a partir dos números que é quinze vezes mais provável alguém ter o carro furtado no Tatuapé do que no Bom Retiro, já que no DP da região central foram registrados 82 furtos durante todo o ano de 2021, numa média de um a cada quatro dias.
O Bom Retiro também foi o bairro com menos registros de roubos de veículos em 2021. Foram onze — o número do líder do ranking, São Mateus, é sessenta vezes maior, 674 (veja o quadro abaixo).
Ao menos dez delegacias de polícia, das 91 analisadas pela reportagem, tiveram mais queixas de roubos do que de furtos, como Jabaquara, Cidade Ademar, Capão Redondo e Parelheiros. Na análise de José Vicente da Silva Filho, coronel reformado da PM de São Paulo, apesar de reunir muitos registros, essa modalidade de crime caiu nos últimos vinte anos.
Em 2001, a taxa de roubos e furtos de veículos era de 2 698 por 100 000, índice que fechou 2021 em 540. Para José Vicente, essas diferenças regionais servem como uma espécie de termômetro da criminalidade. “Os furtos e roubos de veículos são os únicos crimes em que se têm 100% de registros, ao lado de homicídios. Esse é um medidor importante da segurança pública em localidades, seja num estado, cidade ou região”, afirmou José Vicente, também ex-secretário Nacional de Segurança Pública.
47 987 é o número de furtos (34 331) e roubos (13 656) registrados na cidade de São Paulo
Para o advogado Fabio Karaver, da comissão de trânsito da OAB-SP, é necessária uma atuação mais firme do poder público. “Essa modalidade de crime persiste por fatores como a existência de desmanches, que, apesar de ações do poder público, ainda operam de forma a alimentar esse tipo de crime”, explica. “Há mercado de venda paralela de veículos que vão parar até em outros países, e é preciso identificar esses grupos criminosos”, completa José Vicente.
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Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirma que realiza ações para combater esse crimes como esses, como a Operação Desmanche, contra a receptação de veículos e peças roubadas, além de investigações em todo o estado para desarticular quadrilhas e recuperar automóveis furtados ou roubados.
Na capital, só 28% dos veículos furtados ou roubados foram localizados em 2021. Esse, inclusive, é o grande receio do publicitário Matheus Gonçalez, que teve o carro levado na Zona Leste. “Se acharem, só Deus sabe como os criminosos o deixaram. E, mesmo que receba o valor de tabela (do seguro), será impossível comprar o mesmo tipo de veículo e do mesmo ano, já que houve valorização”, diz.
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Publicado em VEJA São Paulo de 9 de fevereiro de 2022, edição nº 2775