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Romance paulistano

Quando o psicanalista de origem italiana chega ao drive-in paulistano, acompanhado de sua amiga vietnamita, cresce o meu entusiasmo. “Só dá gringo louco neste romance”, penso. Estou sempre à procura de obras de ficção ambientadas na cidade. Se forem policiais, então, melhor ainda. A Mulher de Vermelho e Branco, de Contardo Calligaris, reúne as duas […]

Por Matthew Shirts
Atualizado em 5 dez 2016, 15h34 - Publicado em 11 out 2013, 18h18
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  • Quando o psicanalista de origem italiana chega ao drive-in paulistano, acompanhado de sua amiga vietnamita, cresce o meu entusiasmo. “Só dá gringo louco neste romance”, penso. Estou sempre à procura de obras de ficção ambientadas na cidade. Se forem policiais, então, melhor ainda. A Mulher de Vermelho e Branco, de Contardo Calligaris, reúne as duas qualidades. Conta histórias do psicoterapeuta Carlo Antonini, italiano, tal como o autor. Ele reside entre São Paulo e NovaYork. Mas dá umas escapadas até Paris porque, afinal, ninguém é de ferro. Seus pacientes e amigos o envolvem em crimes, tramas e uma rede de suspeitas. Há até a possibilidade da participação da CIA. Buscamos, nós, leitores, saber a verdade dos fatos ao virar as páginas.

    O livro é de 2011. Só o li agora, na semana retrasada. Fui convocado para entrevistar o autor, mais célebre, creio, como colunista da Folha de S.Paulo, em um evento literário na cidade de Santos. Não o conhecia pessoalmente. Tampouco havia tomado contato com alguma obra sua de ficção. Abri A Mulher de Vermelho e Branco na noite anterior ao encontro marcado. Isso no hotel, perto da praia. Não consegui parar. Quase termino a leitura de uma só tacada.

    Quem lê romances policiais está acostumado com um subgênero conhecido em inglês como procedural. Os enredos avançam através dos procedimentos investigativos utilizados pelos policiais. É o tipo de ficção mais comum nos dias de hoje: o seriado de televisão CSI é um bom exemplo. O livro lembra esse gênero de prosa, mas substitui os detetives por um terapeuta. Acompanhamos o raciocínio psicanalítico de Carlo Antonini em sua busca pelos fatos. É uma maneira instigante de contar uma história.

    Como se não bastasse, as investigações de Carlo Antonini nos levam a jantar no Viena, a estacionar no Conjunto Nacional e a experimentar as acomodações do motel Overnight, próximo à Avenida Marquês de São Vicente, na Barra Funda. Gastamos uma noite jogando snooker no Largo da Batata. Hospedamo-nos no Hotel Maksoud Plaza. Passamos em revista os vários tipos de drive-in que existem em São Paulo, fascinantes aos olhos de todo estrangeiro. Nisso, Carlo Antonini não é diferente. Ele conhece melhor do que eu esse tipo de estabelecimento, concedo (nos drive-ins da minha adolescência, na Califórnia, nos Estados Unidos, esses locais passavam filmes num telão gigante ao ar livre).

    Mas não quero correr o risco de estragar a obra contando demais. Porque, se você gosta de romance policial e não o leu ainda, tem pela frente um presente. Na entrevista do dia seguinte, no palco do Teatro Guarany, no centro antigo de Santos, Contardo nos diz que Carlo Antonini também é protagonista do seu primeiro romance, O Conto do Amor. E que o personagem vai estrelar uma minissérie da HBO chamado Psi, que irá ao ar no ano que vem em toda a América Latina. Espero que passe em São Paulo também, com direito a muitos gringos louquinhos.

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