Publicado em 1605, Dom Quixote é o livro de cabeceira de Roberto Teixeira da Costa. E, assim como o personagem-título do clássico de Cervantes, o economista, de 84 anos, trava suas batalhas inglórias. No caso, a missão atual é convencer os brasileiros a apostar suas fichas na bolsa de valores, isso num país onde historicamente a taxa de juros torna os títulos públicos bem mais atrativos e seguros.
Criar uma cultura de investimento em ações é o tema de seu livro Valeu a Pena! Mercado de Capitais: Passado, Presente e Futuro (Editora FGV, 220 páginas), lançado em agosto. Com prefácio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e texto de contracapa do ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, o trabalho é resultado de uma pesquisa realizada na Universidade Colúmbia, em Nova York (EUA), ao longo de 2016.
As semelhanças entre “o cavaleiro da triste figura” e o carioca de papo e riso fácil, no entanto, acabam aqui. Instalado em uma escrivaninha de seu apartamento nos Jardins, o economista se empolga ao versar sobre os mecanismos de criação dos juros e da inflação, as teorias da área financeira, os humores da geopolítica internacional e as leis que regem o mercado de capitais.
Suas prateleiras abrigam portentos como O Capital, de Karl Marx, catálogos artísticos do expressionista suíço Paul Klee e do escultor americano Alexander Calder, e mesmo artesanato regional brasileiro. Costa cita frases do austríaco Peter Drucker, pai da administração, ou do escritor argentino Jorge Luis Borges para reafirmar sua visão de mundo. “Otimistas são ingênuos, e pessimistas, amargos. Melhor ser um realista esperançoso”, diz, parafraseando o dramaturgo Ariano Suassuna.
A tese elaborada durante o período de estudos nos EUA é que não existe desenvolvimento possível sem a injeção financeira de um forte mercado de ações. “O Estado exauriu seus recursos e não tem como prover o investimento na economia”, defende. “O setor privado tem dinheiro e este deve ser usado para suprir a nossa carência de infraestrutura”, completa ele, autor também de Nem só de Marketing… Postura e Comportamento no Mundo Corporativo (Editora Conex, 2005) e Mercado de Capitais: uma Trajetória de 50 Anos (Imprensa Oficial, 2006).
Para aumentar a capilaridade da bolsa de valores, Costa sabe que será preciso superar uma cultura secular de desconfiança com as oscilações do pregão. “Não podemos culpar o brasileiro por preferir o investimento em renda fixa, mas é necessário acabar com essa imagem de que a bolsa é um cassino.”
Formado pela Faculdade Nacional de Ciências Econômicas (a atual UFRJ), no Rio, Teixeira da Costa é um pioneiro no mercado de capitais no Brasil. Entrou na área em 1958, ao trocar um emprego no Citibank por uma das primeiras empresas de consultoria do setor no país, a Deltec. Em 1977, foi convidado pelo então ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen, a criar e assumir a presidência da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), responsável por fiscalizar o mercado de ações.
Nas décadas seguintes, passou a integrar o conselho de várias das maiores companhias brasileiras. Agora acaba de desembarcar em Londres (Inglaterra) para um período de dois meses de estudos no King’s College. “Minha próxima missão é entender por que nós, brasileiros, somos tão paroquiais”, diz. “Precisamos urgentemente inserir nosso país no mundo.”