As páginas da vida de Rita Lee, morta na segunda-feira (8) em decorrência de um câncer no pulmão, aos 75 anos, foram escritas do começo ao fim nas ruas de São Paulo.
Na infância, quando se descobria artista, morou em um casarão da década de 1920 da Rua Joaquim Távora, na Vila Mariana.
No mesmo bairro, estudou no Liceu Pasteur, colégio de classe média onde aprontou incontáveis peraltices. “Num momento vendeta, cheguei a tacar fogo no cenário do teatro do colégio porque fui preterida no papel de Julieta. Não houve provas suficientes para me expulsarem”, conta em Rita Lee: uma Autobiografia (2016).
Depois, na juventude, chegou a começar o curso de comunicação social na USP. “Passei um ano bundando (…), na base do ‘assina a presença para mim’. Para ganhar uma graninha extra, ora fazia um bico numa loja de calçados na Domingos de Morais, ora dava aula de inglês”, relembra.
O Parque Ibirapuera é cenário constante das memórias da cantora — ali, por sinal, está enterrado um cachorro da família.
E, em uma casa da Rua Venâncio Aires, na Pompeia, formou com Arnaldo Baptista e Sérgio Dias a genial e psicodélica banda Os Mutantes.
Não à toa, Caetano Veloso cunhou o verso que a consagra como “a mais completa tradução” da cidade, em Sampa. Caótica e fascinante, Rita era isso mesmo. E para sempre será.