O violino de Ricardo Herz não tem nada do universo erudito ao qual o instrumento é, comumente, associado. Tampouco se prende ao armorial, gênero identificado à sua prima arcaica, a rabeca. Da pequena caixa de quatro cordas tocadas com um arco, o músico tira paisagens do norte da África e do pampa gaúcho, resgata o passado e o reatuliza em leituras de choros clássicos e harmonias do jazz. Essas são algumas das referências de “Aqui é o Meu Lá”, quarto trabalho do artista, que será lançado nesta quinta (5), em única apresentação, no teatro do Sesc Pompeia, às 21h.
O próprio Herz admite o quão diferente é pensar no violino fora dos ambientes de concertos e récitas. “Da música cigana à celta, o violino é usado em várias tradições populares pelo mundo. Só no Brasil isso não aconteceu”, comenta. Ele conta que, no entanto, isso não é problema. “Ao final das apresentações, o público se surpreende com essa versatilidade do instrumento, que substitui harmonicamente o bandolim, a flauta e a sanfona. Dá até para suingar.”
Do jazz africano ao chamamé
A busca de elementos-surpresa foi uma das motivações para o novo trabalho. “A base deste álbum, assim como nos demais, é a música brasileira, mas com uma maior exploração do improviso e de compassos diferentes”, explica o músico. “Aqui é o Meu Lá” traz 12 faixas, a maioria composições próprias ou parcerias. A exceção é a versão do choro “Odeon”, de Ernesto Nazareth.
O disco começou a ser pensado em 2010, em Paris. Foi nesse período que Herz tomou contato com sonoridades do Norte da África, inspiração para as canções “Saci” e “Maghrebiase“. Já em solo brasileiro, o trabalho amadureceu e agregou outros ritmos, como o chamamé, típico da fronteira gaúcha e que embala a faixa “Chama o Quê”. A incursão no gênero é fruto da parceria com o acordeonista Samuca, que conheceu no projeto “Rumos Música 2010-2012”, do Itaú Cultural.
Além do violino, o show desta quinta conta com a bateria e percussão de Pedro Ito e o violão de sete cordas de Michi Ruzitschka, além das participações especiais de Benjamim Taubkin (piano), João Taubkin (contra-baixo) e Danilo Morais (voz e violão).