A edição da VEJA SÃO PAULO de 15 de dezembro de 2010 ficou guardada na memória dos leitores como “a capa da Hebe careca”. A foto exclusiva foi cedida pela apresentadora, que morreu em 2012, ao jornalista Alvaro Leme. “Eu me preparei psicologicamente para pedir uma foto dela careca. É muito delicado fazer um pedido desse a uma pessoa que tinha acabado de enfrentar um câncer”, relembra o repórter, que também tem na memória o perfume marcante da estrela platinada, a fragrância francesa Eau du Soir. A matéria em questão trazia perfis de outras personalidades que se destacaram naquele ano — mas 2010, com certeza, fora o ano da Hebe. Ela havia enfrentado o diagnóstico e o tratamento de um câncer no peritônio, que é a membrana que reveste a cavidade abdominal. Quando recebeu o repórter em sua casa, já estava em melhor fase, com os cabelos renascendo. A foto feita em abril, quando os efeitos colaterais da quimioterapia se impunham, foi cedida pela paulista nascida em Taubaté porque ela queria passar uma mensagem com a imagem. “Ela adorou a matéria e achou muito importante como exemplo de superação para outras pessoas que estivessem doentes”, revela o filho de Hebe, Marcello Camargo, de 55 anos. Aquela foi a última vez que Hebe e Leme se viram. “Foi como uma despedida. O que eu lembro dela, pensando nos eventos, é que ela era um clarão. Era a luz dela, no sentido figurado. Objetivamente, eram os flashes dos fotógrafos reluzindo em suas joias”, conclui Leme.
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Outra estrela de primeira grandeza dos setenta anos da televisão no Brasil, Silvio Santos estampou uma capa da Vejinha em 2014 em momento menos glamoroso: colocando a louça na máquina de lavar, durante suas férias em Orlando. A entrevista exclusiva para o repórter João Batista Jr. não foi fácil. “Ele não fala com a imprensa, mas é educado quando é abordado na rua, então resolvi arriscar. Pedi aos meus editores para eu fazer uma tentativa nos Estados Unidos, que é onde ele passa as férias do fim do ano”, explica Batista sobre a gênese da matéria. A viagem para os Estados Unidos foi repleta de maus bocados. Os vizinhos de Silvio tinham achado estranho a presença da equipe de reportagem no condomínio de residências e chamaram a polícia: João e o fotógrafo e cinegrafista Fernando Moraes quase foram fichados.
A última tentativa do repórter foi um arroubo de gentileza e simpatia. Ele escreveu um bilhete a mão e entregou junto com flores e edições impressas da VEJA SÃO PAULO na casa de veraneio do homem do Baú. “O que eu mais escuto na minha vida é ‘não’. Às vezes, a gente vê muita matéria que deu certo e acha que a carreira daquele repórter é incrível. O que deu certo é 1 por cento”, diz o jornalista. O derradeiro presente sensibilizou o dono do SBT. “Essa reportagem com o Silvio é o desejo da imprensa inteira, ele é um personagem, um mito”, afirma Batista. Depois da abordagem, Silvio convidou João para tomar um café. “Fiquei muito nervoso, com medo de falar algo e ele encerrar a entrevista do nada. O poder da pessoa intimida, mas perguntei tudo, inclusive se ele usava Viagra”, relembra João Batista (em tempo, ele respondeu que não). Silvio, que completa 90 anos em dezembro deste ano, permanece fechado em copas, agora isolado em sua casa no Morumbi devido à pandemia. Só deve voltar ao trabalho quando a tão esperada vacina sair.
Publicado em VEJA São Paulo de 14 de outubro de 2020, edição nº 2708.