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OLÁ,

O rei dos combinados japoneses

Kiyomi Watanabe, fundador do Sushi Kiyo, afirma ter sido o primeiro a colocar sushi e sashimi no mesmo prato

Por Nathalia Zaccaro
Atualizado em 14 Maio 2024, 11h55 - Publicado em 9 set 2011, 16h40
Kiyomi Watanabe, do Sushi Kiyo - 2234
Kiyomi Watanabe, do Sushi Kiyo - 2234 (Fernando Moraes/)
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Wasabi, hashi, shoyu e tempurá. Essas e outras palavras japonesas já fazem parte do vocabulário paulistano há décadas. A mistura de idiomas deriva do enorme sucesso dos sushis e sashimis entre os brasileiros. Quem acessa o banco de dados do site de VEJA SÃO PAULO e se depara com 236 endereços especializados nesse ramo da gastronomia oriental — mais que o dobro das 117 opções de pizzaria — pode imaginar que as iguarias sempre estiveram presentes em nossas mesas.

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Mas quando Kiyomi Watanabe desembarcou no Brasil, em 1955, quase ninguém concebia a ideia de comer um pedaço de peixe cru com dois palitinhos. Antes de virar um dos principais propagadores do negócio por aqui, o imigrante passou seis anos dando duro em fazendas de pimenta e café no Pará e no Sul do país. Somente depois de se mudar com a família para o bairro da Liberdade é que conseguiu emprego em restaurantes da cidade. Na época, graças à concentração da colônia no local, a região era a única a abrigar casas especializadas nesse tipo de cozinha. “Os brasileiros a consideravam muito cara e exótica”, afirma Paulo Yokota, economista e editor do site Asia Comentada. “Esses preconceitos perduraram muito tempo.”

A carreira de Watanabe engrenou junto com o crescimento da culinária japonesa por aqui. Em 1965, ele deixou de ser empregado para abrir seu próprio negócio, o Suehiro, em parceria com o irmão e também sushiman Tatsumi Watanabe. No início dos anos 80, achou que era o momento de arriscar, abandonando o público cativo na Liberdade para tentar conquistar outros clientes. O local escolhido para a empreitada, o Bixiga, dominado pelos endereços italianos, não poderia ser mais ousado. “Quando cheguei, disseram-me que lá era lugar de macarronada e que não haveria espaço para minhas receitas”, conta ele, que agora atende no Paraíso. Mas, ao contrário do que previram os donos das cantinas vizinhas, o Sushi Kiyo — que completa trinta anos na segunda (19) — tornou-se um sucesso e vivia lotado de personalidades, como os atores Beatriz Segall e Paulo Autran e os políticos José Serra e Mario Covas. “Era um clima de festa incrível”, lembra a atriz Bruna Lombardi.

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Foi nessa época que o proprietário diz ter dado contribuições decisivas ao cardápio dos japoneses. Devido a pedidos dos clientes, que desejavam apreciar no mesmo prato sushi e sashimi, ele resolveu seguir uma solução adotada por restaurantes americanos: a oferta de combinados. A ideia se transformou num dos maiores trunfos da casa. “Ninguém fazia nada parecido”, afirma o filho e sucessor Carlos Watanabe, que reivindica para o pai também o pioneirismo na introdução dos temakis por aqui. Apesar do tom de certeza nas suas palavras, faltam registros para comprovar esse fato. “No início dos anos 80, vários restaurantes ofereciam combinados, e não dá para dizer quem inventou isso”, rebate Ryoichi Yoshida, dono do Hamatyo, em Pinheiros, com quarenta anos de profissão.

Ryoichi Yoshida, do Hamatyo - 2234
Ryoichi Yoshida, do Hamatyo – 2234 ()

Discussões à parte sobre a paternidade das receitas mais famosas, os sabores japoneses caíram no gosto dos clientes. A massificação é visível: atualmente até churrascarias, pizzarias e padarias vendem sushis. A exemplo do que ocorreu em outras cidades ocidentais, por aqui surgiram também adaptações nos pratos, com a introdução de ingredientes como frutas e maionese. Apesar das ousadias que introduziu no início da carreira, hoje Watanabe tem arrepios ao pensar nas inovações mais recentes. “Ele não coloca cream cheese em nada, nem adianta pedir”, diz o filho. O Sushi Kiyo tampouco aderiu à moda dos rodízios, que no fim dos anos 90 foi responsável pela popularização ainda mais intensa da culinária japonesa.

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Para celebrar as três décadas de seu restaurante, Watanabe preparou um menu especial com sucessos dos anos 80, entre eles a cauda de cavaquinha salteada na manteiga. A clientela fica na expectativa para rever outra das atrações daquela época: em dias mais animados, o sushiman abandonava a faca e subia no balcão para soltar a voz. “Ele cantava óperas japonesas”, recorda Chico Campos, cantor lírico e antigo parceiro de hashi e microfone.

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