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Quando uma família termina em tragédia

Semanas após um adolescente ter matado pai, mãe, avó e tia na Vila Brasilândia, dois novos casos chocam a cidade: mãe é suspeita de assassinar as filhas e pai, de envenenar suas crianças

Por João Batista Jr., Juliana Deodoro e Nataly Costa
Atualizado em 5 dez 2016, 10h16 - Publicado em 20 set 2013, 20h31
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  • O mal que causa maior perplexidade é aquele que destrói um lar, depois de ser alimentado por um dos membros da própria família. Ele se embrenha de forma sorrateira no ambiente até explodir aos olhos de todos na forma de uma grande tragédia. Até hoje, custa crer que um garoto de rosto angelical e pródigo em distribuir gestos de carinho aos mais próximos, como demonstram várias imagens que retratam um pouco do dia a dia de sua residência, na Vila Brasilândia, tenha assassinado o pai, a mãe, a avó e uma tia — e cometido suicídio na sequência. Os trabalhos da polícia que apontam na direção de Marcelo Pesseghini, de 13 anos, como o autor das mortes, mostram um lar diferente daquele que parecia ser um ambiente equilibrado e amoroso. O pai de Marcelinho já havia sido advertido pela escola do filho por tratar na frente dele dos detalhes da rotina violenta da Rota, onde trabalhava como sargento. Ele e a mulher enfrentavam uma crise conjugal. Antes da chacina, o menino tinha ameaçado a avó com uma flecha e, nos últimos tempos, tentava organizar com os amigos do colégio um grupo de matadores de aluguel. Nenhum deles o levou a sério, até a descoberta dos corpos dos Pesseghini no dia 5 de agosto.

    Outros crimes ocorridos recentemente na capital e em seus arredores resultaram na morte de membros de uma mesma família. Mary Vieira Knorr, de 53 anos, que tinha quatro passagens na polícia, sendo três por estelionato, e não conseguia pagar dívidas de cerca de 200 000 reais, teria confessado o assassinato de suas duas filhas (Giovanna,de 14 anos, e Paola, de 13). Na sua casa no Butantã, onde havia um forte cheiro de gás, Mary foi encontrada agonizando no chão. Em uma residência em Cotia, a 35 quilômetros da capital, a polícia encontrou na parede da cozinha a seguinte frase escrita com um lápis verde: “Deus me perdoe. Não consegui cuidar dos meus filhos”. O recado teria sido deixado pelo cabeleireiro Claudinei Pedrotti Júnior, suspeito de ter matado a mulher e os dois filhos, antes de cometer suicídio. Nos últimos tempos, ele lutava para se livrar da cocaína e tentava recomeçar a vida com um novo negócio.

    Nesse cenário de tantas histórias horrendas, uma outra tragédia familiar foi logo tomada como episódio semelhante. Na segunda passada (16), em Ferraz de Vasconcelos, cinco pessoas foram encontradas mortas: a auxiliar de enfermagem Diná Vieira da Silva, de 42 anos, e quatro filhos com idade entre 6 e 16 anos. A polícia prendeu preventivamente na terça (17) o namorado de Diná, o boliviano Alex Pedraza. Ele tem uma condenação por furto e foi denunciado três vezes por agressões à auxiliar de enfermagem. Apesar desse histórico, os peritos do Instituto de Criminalística trabalhavam na quinta (19) com a hipótese de morte acidental. Os cinco teriam sido vítimas de um vazamento de gás. Se essa possibilidade se confirmar, o envenenamento de que se suspeitou poderia ter sido causado pelo monóxido de carbono liberado pelo encanamento danificado do apartamento onde moravam.

    Falta de dinheiro, problemas de relacionamento, desentendimentos entre casais e dificuldades no trabalho ou na escola acontecem em qualquer família, em qualquer lugar do mundo, sem causar nenhum tipo de tragédia além de desconforto e tensão. Os casos recentes representam extremos que, em geral, ocorrem pela soma desses e de outros fatores. “Como todo comportamento, sua causa é múltipla”, observa o médico Daniel de Barros, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas. “No caso da Mary Vieira Knorr, por exemplo, o stress das dívidas pode ter desencadeado um surto psicótico. Mas pode haver outras causas ainda desconhecidas.” Pessoas próximas às famílias do Butantã e de Cotia não notavam nada de anormal na rotina daquelas pessoas antes das tragédias. “É comum que vizinhos não percebam os distúrbios, pois todo mundo procura preservar sua intimidade”, afirma a psicóloga Rosely Sayão. “Mas o relacionamento íntimo é o mais verdadeiro, pois costumamos brigar com maior frequência com quem amamos e convivemos.” Em Anna Karenina, um dos maiores romances da literatura, o escritor russo Leon Tolstoi diz que todas as famílias felizes se parecem, para depois observar: “Cada família infeliz é infeliz à sua maneira”. Conheça os detalhes e contornos particulares dos casos que chocaram todos os paulistanos: 

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    + Paola e Giovanna Knorr Victorazzo: encontradas mortas pelo irmão

    + Família Pedrotti: drogas e dívida

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